Que tal lucrarmos 70 bilhões de dólares até 2030? Para isso precisamos reduzir o desmatamento e, assim, ganharmos créditos de carbono florestais.
Mas o que significa isso? A partir de 2020, quando o Acordo de Paris entrar em prática, o Brasil poderá usar suas florestas como commodities, ou seja, matéria prima. Mas para isso precisamos ter florestas de pé. Assim, cumprimos nossas metas no Acordo e ainda lucramos.
O estudo foi feito pela Environmental Defense Fund (EDF), baseado em estimativas de preços futuros do carbono. Uma das importantes fontes de receita dessa equação é o REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal).
Esse mecanismo foi criado para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados de redução de emissões de Gases de Efeito Estufa provenientes do desmatamento e da degradação florestal. Entre eles estão a conservação e o aumento de estoques de carbono florestal e o manejo sustentável de florestas.
Os pagamentos são realizados de acordo com o volume de redução que a atividade promoveu, medidos em toneladas de CO2.
Enquanto se desmata a Amazônia para criar gado, devastam o Pampa, bioma ideal para a pecuária, para plantar soja – grão utilizado para fazer ração para boi. Qual a lógica disso? O Pampa é um dos seis biomas brasileiros e é o segundo mais devastado, só perdendo para a Mata Atlântica.
A atividade pecuária não só convive bem com as espécies nativas pampeiras como até ajuda na preservação de sua biodiversidade. Mas a lógica do lucro pelo lucro atropela até a própria lógica. Em nome de quê?
O planeta perdeu o equivalente à área da Nova Zelândia em áreas florestais no ano passado. E perdeu para o fogo: o aumento de 51% em relação a 2015 se deu, principalmente, por causa de incêndios, segundo relatório da Global Forest Watch. Incêndios no Brasil, Estados Unidos (foto), Espanha e Portugal indicam que a área destruída este ano deve ser ainda maior. E floresta queimada também é mais CO2 na atmosfera.
Fatores climáticos à parte, o homem contribui ao tratar o solo de forma inadequada, praticar a monocultura do eucalipto e não fazendo o devido trabalho preventivo – ou até mesmo agindo criminosamente, como na Chapada dos Veadeiros e em Portugal. O lado bom disso: não é um trabalho para São Pedro, nós mesmos podemos resolver.
O efeito colateral imediato da destruição do Cerrado é a extinção de milhares de plantas medicinais com potencial de cura de várias doenças.
De acordo com o estudo publicado na revista Nature Ecology and Evolution, até 2050 o Cerrado, que é o segundo maior bioma da América do Sul e onde estão 8 das 12 nascentes das bacias hidrográficas do Brasil, terá a maior extinção de plantas do mundo desde o ano de 1500.
Uma das formas de conter essa destruição provocada pelo avanço da agricultura na região, é a criação de unidades de conservação, que hoje só ocupam 8% do Cerrado, resguardando a vegetação e mais de 10 mil anos de cultura de nativos, negros e europeus.
A concessão de terras no Brasil realmente parece um feirão. Um estudo divulgado pela USP aponta que a agropecuária ganhou mais de 40 milhões de hectares que foram desmatadas ilegalmente no passado. A anistia dos crimes ambientais se deu com a alteração da lei principal do Código Florestal.
É uma área maior que Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará juntos.
Esse número deve aumentar ainda mais com as Medidas Provisórias (MPs) aprovadas nesta semana pelo Senado que reduz mais de 800 mil hectares da Floresta Amazônica e da Mata Atlântica.
O Ministério do Meio Ambiente encaminhou as MPs para a sanção do presidente Michel Temer mas com recomendação que ele vete as alterações do texto principal que prejudicam a implantação das políticas para conter o desmatamento na Amazônia.