O topetudo do Cerrado

O topetudo do Cerrado

O topetudo aí é o pica-pau-da-parnaíba, que pode desaparecer junto com o Cerrado. Entre as várias espécies ameaçadas, o pássaro tem uma característica que o torna mais vulnerável: seu paladar exigente. A única coisa que o bichinho come são formigas que vivem na taboca, uma especie de bambu do Cerrado.

Mas não é qualquer formiga: na taboca vivem 30 espécies diferentes, mas eles só comem 5 delas. A taboca está rareando. E não vai ficar só ruim para o pica-pau-da-parnaíba: sem o Cerrado não tem água. Lá nascem oito das 12 maiores bacias hidrográficas do Brasil. Garantindo o almoço do pica-pau-da-parnaíba a gente garante o nosso jantar.

Via O Eco

Foto: Tulio Dornas

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Mexeu com índio, mexeu com todo mundo

Mexeu com índio, mexeu com todo mundo

Os direitos dos povos tradicionais estão sofrendo ataques sem precedentes e a situação tende a se agravar diante do cenário de instabilidade política que o país atravessa. Os índios são os guardiões das florestas e as florestas ajudam a regular o clima. Logo, o problema deles também é nosso. Por isso, precisamos estar mais unidos do que nunca.

Estamos na Semana do Índio e em contagem regressiva para o Acampamento Terra Livre (ATL) 2017, que acontece de 24 a 28 de abril, em Brasília. O evento será norteado pelo lema “Unificar as lutas em defesa do Brasil Indígena”. É preciso garantir os direitos originários dos povos indígenas, garantidos pela Constituição de 1988. Demonstre o seu apoio assinando a petição Presidente Temer e ministro Serraglio: respeitem os direitos indígenas!

A presidente Dilma foi o que menos demarcou Terras Indígenas (TIs) desde a redemocratização, mas incrivelmente a situação piorou depois do seu afastamento. A Funai está debilitada como nunca (no fim do mês passado, foram cortados da instituição, numa só canetada 347 cargos comissionados), e Legislativo e Executivo vêm apresentando projetos para dificultar novas demarcações e até mesmo rever as antigas.

O ataque é incessante e nem mesmo a série de escândalos de corrupção envolvendo nomes do alto escalão do governo (como os ministros da Justiça e da Agricultura) parece capaz de detê-lo. Somos a única linha de defesa realmente eficaz.
Então, vamos fazer ecoar nosso grito: mexeu com o índio, mexeu com o clima!

Leia a convocatória do ATL: https://mobilizacaonacionalindigena.wordpress.com/2017/03/20/convocatoria-acampamento-terra-livre-2017/

1 milhão em 2 dias

1 milhão em 2 dias

Governo reduz em apenas 2 dias mais de 1 milhão de hectares das Unidades de Conservação. “Após avanços significativos na redução da taxa de desmatamento e na demarcação de terras indígenas e criação de unidades de conservação na década passada – mantendo ao mesmo tempo forte crescimento econômico, safras recorde e geração de empregos –, o Brasil parece retroceder à década de 1980, quando era um pária internacional devido à destruição acelerada de seu patrimônio natural e à violência no campo”.

Este é um trecho da carta em protesto contra o ataque coordenado do Congresso Nacional e do governo de Michel Temer à proteção ambiental e aos direitos dos povos tradicionais feita pelo Observatório do Clima em sua assembleia em Atalanta (SC). O documento lista vários retrocessos feitos pelo governo nos últimos meses, no que talvez seja a maior ofensiva antiambiental desde a promulgação da Constituição de 1988.

Via: Observatório do Clima

Saiba mais: https://www.observatoriodoclima.eco.br/nenhum-hectare-a-menos/

O Cerrado seca

O Cerrado seca

Enquanto a exuberância da vegetação da Amazônia grita ao mundo a sua importância para o bem-estar do planeta, a beleza da flora do Cerrado é interior. Talvez por isso a gente não lhe dê a devida atenção. O segundo maior bioma brasileiro corre o risco de virar um imenso pasto ou lavoura de soja. E as consequências disso serão catastróficas.

O Cerrado é como uma floresta de cabeça para baixo: suas árvores têm raízes profundas, maiores do que as copas. Elas são responsáveis por absorver a água da chuva e depositá-la em reservas subterrâneas, os aquíferos. Na região, também nascem oito das 12 grandes bacias hidrográficas brasileiras. Se o atual índice de desmatamento permanecer até 2050, teremos a extinção de 1.140 espécies vegetais endêmicas do bioma. E aí a fonte vai secar.

A rapidez com que se está destruindo o Cerrado pode esgotar os aquíferos Guarani, Urucuia e Bambuí, que abastecem torneiras de todas as regiões do país. Ou seja: o problema também é de quem mora nas grandes cidades. O estopim desse cenário apocalíptico é a fronteira agrícola do Matopiba, nome dado ao avanço da agropecuária num território de 400.000 km² espalhados por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

O bioma já perdeu 46% de sua flora nativa. A vegetação que chega com o gado e as monoculturas tem raízes curtas e é incapaz de cumprir o papel de acumular líquido. O Cerrado é a nossa caixa d’água. É hora de termos visão estratégica e olharmos além da próxima safra.

Sem Cerrado não tem água. E sem água não tem vida.

Via BBC Brasil

Saiba mais: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-39391161

Lendas que assombram o campo

Lendas que assombram o campo

Da mula-sem-cabeça ninguém mais tem medo, mas há lendas que ainda insistem em assombrar o campo. Nos últimos dias, dois mitos rurais brasileiros foram ao solo: o de que há excesso de terra protegida no país e o de que sem agrotóxico não se produz alimento suficiente para saciar a fome do planeta. O primeiro, foi derrubado pelo recém-publicado Atlas da Agropecuária Brasileira, da Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora); o segundo, exorcizado por um relatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU. Mesmo assim, ainda há os que neles creiam e persistam em evocá-los. A informação é a nossa bala de prata.

Segundo o relatório da ONU, é possível alimentar as 9,6 bilhões de seres humanos que habitarão o planeta em 2050 sem o uso de agrotóxicos. O segredo está na redução da pobreza e da desigualdade. Além disso, estima-se que os pesticidas matem 200 mil pessoas por ano. O Brasil é o maior consumidor mundial do veneno, mas há quem ache pouco: o próprio ministro da Agricultura, Blairo Maggi, é autor do Projeto de Lei (PL) 6299/2002, que propõe a flexibilização da legislação sobre o uso de agrotóxicos. A sociedade civil, porém, já começa a reagir a essa insensatez: partiu dela o PL 6670/16, que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pnara). A proposta prevê mais de cem medidas para limitar o uso de pesticidas e herbicidas e garantir um ambiente sadio para se produzir comida de qualidade.

A bancada ruralista briga no Congresso para fatiar a Amazônia e entregá-la ao agronegócio, mas a verdade é que tem terra suficiente no país para plantar e criar boi. O Atlas da Imaflora aponta que, em números absolutos, as áreas protegidas cobrem 27% do território nacional, enquanto as grandes propriedades ocupam 28%. É bem verdade que por lei o proprietário deve preservar a vegetação natural em parte de suas terras; por outro lado, o desmatamento em áreas protegidas vem crescendo – dobrou de 2012 para 2015. A devastação do verde, infelizmente, não é apenas um mito.