Não é de hoje que dizemos: a corrupção é insustentável. Um estudo publicado na Nature Ecology & Evolution liga o desmatamento a paraísos fiscais. Derrubar árvore pode estar servindo para lavar dinheiro.
A maior parte do capital estrangeiro investido em grandes empresas de soja e carne brasileiras vem de Bahamas, Ilhas Cayman e Antilhas. A motosserra se juntou com a máquina de lavar?
Arredondou pra mais. O governo anunciou que o país já teria cumprido sua meta de redução de emissões para 2020. Essa conta leva a diminuição do desmatamento entre 2016 e 2017. Segundo especialistas da área, esta seria uma projeção bastante improvável, superfaturada.
Um exemplo: o desmatamento da Amazônia ainda está em 6.957 km², ou 78% maior do que a meta assumida. Para cumprir o estabelecido, teríamos quase que voltar no tempo. Se bem que retrocesso na área ambiental é o que não falta.
A relatora especial da ONU Victoria Tauli-Corpuz pediu em evento na COP22, em Marrakesh, que o Fundo Verde do Clima das Nações Unidas garanta o reconhecimento dos direitos de povos indígenas à demarcação de suas terras tradicionais.
Tauli-Corpuz alertou seus interlocutores no evento sobre os danos que ações chamadas de soluções para o clima, como a construção de hidrelétricas, podem causar aos povos indígenas.
Hoje, o World Resources Institute apresenta na COP22 seu estudo mostrando que a demarcação de terras indígenas na Amazônia pode valer até US$ 1 trilhão em ativos socioambientais para o Brasil.
É só puxar aquele fio solto que a Amazônia se desfaz. A maior floresta tropical do mundo é como um tecido formado por fibras que são seus solo, fauna, flora, água e clima. É um equilíbrio delicado que está prestes a se romper: se o desmatamento ultrapassar 20% de sua área, ela pode não mais se recuperar. Esta taxa hoje está entre 15% e 17%. O alerta foi dado pelo climatologista brasileiro Carlos Nobre, membro da Academia Brasileira de Ciências, e o biólogo americano Thomas Lovejoy, da Universidade George Mason, na Virginia, em editorial da revista Science Advances. E não se vê movimento para reverter o quadro; ao contrário, o Supremo Tribunal Federal deu um passo para trás ao anistiar desmatadores, conforme prevê o novo Código Florestal, em julgamento na semana passada.
Só em verdinhas foram R$ 8,4 bilhões em multas perdoadas. Tudo em nome da segurança jurídica. Enquanto isso, o orçamento do Ministério do Meio Ambiente encolheu R$ 1,3 bilhão em cinco anos. Ou seja, o STF apenas seguiu uma tendência do que parece uma política de Estado: um estudo de duas universidades americanas e do instituto Conservation International aponta que as áreas desmatadas ilegalmente no Brasil, em vez de serem recuperadas, estão perdendo o status de Unidades de Conservação – e a MP 759, que regulariza terras da União invadidas na Amazônia está aí para mostrar que não se trata de mera teoria. O recado é claro: põe a floresta abaixo que a Justiça e o governo garantem. E a gente vai assistir a isso de braços cruzados?
A legislação brasileira determina que os proprietários rurais devem preservar parte de suas terras – essa porção do território é conhecida como Reserva Legal. Na Amazônia, o índice de proteção exigido é de 80%; no Cerrado, 35%, e nos demais biomas, 20%. Os ministros do STF endossaram endossou a posição do agronegócio na maioria dos pontos analisados nas quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs), que questionavam o novo código, sancionado em 2012 pela presidente Dilma.
A corte considerou constitucionais pontos como a possibilidade de redução da Reserva Legal (de 80% para 50%) em municípios na Amazônia que tenham mais da metade de seu território ocupado por Terras Indígenas e/ou Unidades de Conservação; a possibilidade de obtenção de novas autorizações para o corte de vegetação a quem desmatou ilegalmente até 2008; Áreas de Preservação Permanente (APPs) em beira de rios devem ser medidas conforme sua variação média anual, e não a partir do nível medido na cheia; proprietários que desmataram além dos percentuais mínimos atuais ficam dispensadas de recompor as áreas, caso tenham seguido as regras vigentes no momento em que desmataram; e as propriedades podem contabilizar APPs no percentual de Reserva Legal.
E como se não bastasse o desmatamento, uma série de outras ameaças tem matado, num ritmo cada vez mais veloz, as árvores da Amazônia e de outras florestas tropicais da Terra. A conclusão é de um relatório do Laboratório Nacional do Noroeste Pacífico (EUA), que contou com a participação do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e de outras instituições científicas e foi publicado na revista New Phytologist. Os principais motivos são o aumento da temperatura, secas mais longas, ventos mais fortes, incêndios e até o excesso de gás carbônico na atmosfera – ou seja, todos efeitos diretos ou indiretos das mudanças climáticas. A Amazônia está toda puída. Depois não adianta cerzir.
A invasão começou em 1500 e continua até hoje. Abandonados pelo poder público, Munduruku e Ka’apor lutam sozinhos contra o crime organizado na Amazônia. Só entre 2013 e 2016, os Ka’apor fecharam 14 estradas clandestinas e queimaram 105 caminhões que transportavam madeira ilegal.
Os Munduruku resistem em várias frentes: a última, lutando sozinhos contra o garimpo ilegal na região da Floresta Nacional do Crepori, uma área protegida. Temos muito a aprender com eles sobre respeito à natureza e resistência.