Em nome de quê?

Em nome de quê?

Não estamos falando de um futuro distante: até 2030, 40% das reservas hídricas do planeta podem simplesmente evaporar. Segundo o Unicef, hoje cerca de três em cada dez pessoas no mundo — em um total de 2,1 bilhões — não têm acesso a água potável em casa. No Brasil, o cenário é igualmente alarmante: o São Francisco corre por um fio, 1/3 dos açudes do Nordeste estão vazios, cidades como São Paulo e Brasília enfrentam sérios problemas de abastecimento, e a Amazônia encarou em 2016 a pior seca dos últimos 100 anos.

Pela primeira vez o Fórum Mundial da Água é realizado num país do Hemisfério Sul, o Brasil. Não por acaso: somos depositários de 20% de toda a água potável do mundo. A morte do Rio Doce é o mais doloroso exemplo dos riscos a que estamos expostos. Mas a mineração e a estiagem não são as únicas ameaças que rondam nossas reservas: há também o desperdício; a contaminação por agrotóxicos; o esgoto que chega sem tratamento aos córregos; as hidrelétricas; e o desvio clandestino de rios.

Os rios são as artérias do planeta; precisam correr livres para que ele se mantenha saudável. Sendo assim, podemos dizer que o Planalto dos Parecis, no Mato Grosso, é o seu coração. Dali, na divisa entre o Cerrado e a Amazônia, é bombeada a água que abastece as principais bacias hidrográficas do país. E, neste exato momento, trava-se na região uma batalha que pode ser definir nosso futuro: de um lado estão o governo e os interesses privados; do outro, os povos indígenas e outras comunidades tradicionais. O governo planeja construir 43 grandes hidrelétricas na Bacia do Tapajós, que inclui dois grandes rios que a abastecem: o Juruena e o Teles Pires. Mais de 890 mil pessoas serão afetadas diretamente por essas obras. Indiretamente, seremos todos.

Fala-se muito da intervenção federal no Rio de Janeiro, mas desde outubro do ano passado há outra em curso. Os povos da Bacia do Tapajós já não vinham sendo consultados a respeito de obras que afetam suas vidas, como lhes é assegurado pela Constituição e pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT); agora, estão proibidos de protestar. Os indígenas estão protegendo um bem que é de todos. Ao longo da História foram assinados mais de 3.600 tratados envolvendo o uso e a posse da água. Logo, esta guerra pode ser travada em frentes diversas. Precisamos nos juntar aos povos tradicionais, usando nossos direitos constitucionais como escudo.

O corpo humano é 75% água. Ou seja, praticamente somos água, origem e suporte da vida. A Ciência nos disse o que os povos tradicionais sabem desde sempre, pois guardam uma relação íntima e espiritual com ela. A Hidrelétrica de Teles Pires inundou Sete Quedas, lar dos espíritos dos antepassados dos Munduruku. Seria como se demolissem a Basílica do Santo Sepulcro para passar uma rodovia. Hoje, existem formas de se produzir energia que não prejudicam tanto a natureza e dos que dela dependem ou cultuam. Em nome de quê, então, estamos cometendo tantos sacrilégios?

Por Maria Paula Fernandes, diretora-executiva de Uma Gota no Oceano e Rinaldo Arruda, diretor-presidente da Operação Amazônia Nativa (Opan)

 Artigo publicado originalmente no jornal “O Globo”, em 21/2/2018

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Estão botando fogo no Brasil?

Estão botando fogo no Brasil?

Estão botando fogo no Brasil? A pergunta é pertinente. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) o número de incêndios em setembro já superou em 52% o do mesmo período do ano passado. E segundo o coordenador do Programa de Queimadas e Incêndios do órgão, Alberto Setzer, esse aumento não pode ser atribuído somente ao clima seco ou a causas naturais.

O fogo queima indiscriminadamente Unidades de Conservação e Territórios Indígenas. Os focos se concentram 43,4% na Amazônia. Setzer lembra que as queimadas antecedem o plantio de grãos. As áreas em seguida são desmatadas e ocupadas, como parte da estratégia de invasão de terras públicas. Onde há fumaça, há fogo.

Via Observatório do Clima

Foto: Agência Brasil

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Mexeu com o Whanganui, mexeu com os Whanganui!

Mexeu com o Whanganui, mexeu com os Whanganui!

O Rio Whanganui, o terceiro mais longo da Nova Zelândia, acaba de ser declarado uma pessoa jurídica. É a primeira vez no mundo que um rio se torna uma entidade legal. Na prática, significa que qualquer dano que lhe causem será julgado como um dano aos indígenas Whanganui, do povo Maori.

Agora, os interesses do rio poderão ser defendidos na Justiça por um advogado indígena e outro do governo.

“A nova legislação é um reconhecimento da conexão profundamente espiritual entre os Whanganui e seu rio ancestral”, disse o ministro da Justiça da Nova Zelândia, Chris Finlayson.

Imaginem uma decisão similar sobre, digamos, o Rio Xingu e os povos indígenas da região? Será que conseguiríamos parar os Belos Monstros brasileiros?

Via: G1 – O Portal de Notícias da Globo

Foto: Wikimedia

Saiba mais: https://g1.globo.com/natureza/noticia/nova-zelandia-concede-personalidade-juridica-a-rio-venerado-por-maoris.ghtml

Manifeste-Se!

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