Há 25 anos, em 14 de junho de 1992, chegava ao fim a Conferência das Nações Unidades sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, ou simplesmente Eco 92 ou Rio 92.
Realizado na cidade do Rio de Janeiro, foi o principal encontro sobre o meio ambiente do século. Pela primeira vez, uma conferência sobre tema reunia tantos chefes de Estado. Quase 180 países estavam representados na cidade discutindo o futuro ambiental do planeta.
Algumas coincidências marcam o momento de 1992 com hoje. A situação política no Brasil era tão complicada como hoje. À época, o presidente Fernando Collor estava envolvido em escândalos que levariam ao seu impeachment.
Assim como assim como Donald Trump, o presidente George Bush não acreditava que as ações humanas impactavam diretamente nas mudanças climáticas. A posição americana na Conferência foi a mais intransigente de todas. Além de não assinarem a Convenção sobre a Diversidade e não ratificaram o Protocolo de Kyoto, ficaram fora do comprometimento financeiro de destinar 0,7% de seu PIB para projetos ambientais. Recentemente, Trump abandonou o Acordo de Paris, mais importante acordo climático depois da Eco 92.
Além de políticos e diplomatas, cerca de dez mil pessoas participaram do evento em outro ponto da cidade, em um grande encontro de ONGs e representantes da sociedade civil. Foi outro marco conquistado pela Eco 92: colocar as ONGs socioambientais em posição de relevância no mundo.
“Atualmente, é praticamente um consenso que o homem contribui majoritariamente para as alterações climáticas. Temos também mais dados, mais resultados robustos de pesquisa e modelos melhores. Sabemos que a elevação da temperatura tem um impacto muito desigual nas diferentes regiões do planeta e que os países têm capacidades desiguais de responder ao problema. E também já sabemos o que é necessário para resolver o problema”, diz a cientista Suzana Kahn Ribeiro, do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Neste mesmo ano que comemoramos esses 25 anos da mais emblemática conferência ambiental, o governo continua promovendo retrocessos seríssimos que contribuem para não alcançar nossos comprometimentos na redução das mudanças climáticas. Medidas Provisórias e Projetos de Lei colocam em xeque a redução do desmatamento e o reflorestamento da Amazônia.
Marcílio Marques Moreira, ministro da Economia, Fazenda e Planejamento à época da Rio 92, lembra que o “Brasil era considerado desorganizado, caloteiro e incendiário porque, além do péssimo momento econômico, também queimava a Amazônia, considerada o pulmão do mundo. Ainda assim, conseguimos passar de país denunciado para hospedeiro”. Nada muito diferente do que vivemos hoje, infelizmente.
Rachel Biderman, diretora-executiva do World Resources Institute Brasil (WRI Brasil) avalia que a falta de coordenação e integração dos órgãos mostra que o país não leva a área ambiental a sério, como fazem China e Índia, nações emergentes que já perceberam a força da economia sustentável.
O Senado Federal promoveu nesta semana uma sessão temática para debaterem sobre a Eco 92, onde ressaltaram que a Conferência foi uma das maiores e mais produtivas já promovidas pela ONU. Em 1992, a Eco 92 foi uma maneira de o Brasil contestar, na prática, a imagem difundida internacionalmente de que o país era poluidor e destruidor. Com o sucesso do evento, o Brasil voltou a ser “bem visto”. Lamentavelmente, nosso cenário político-econômico se assemelha ao de 25 anos atrás. Presenciamos retrocessos ambientais e colocamos na berlinda avanços obtidos nos últimos anos. Voltamos a ter uma imagem esfumaçada pelo descaso.
Abaixo o discurso da canadense Severn Cullis Suzuki de 16 anos, que conseguiu atenção de toda Conferência com uma fala emblemática.
Na semana que passou comemoramos O Dia Internacional do Meio Ambiente e também o Dia Mundial dos Oceanos. Ficamos cientes de dados como as 8 milhões de toneladas de plástico que são descartadas no mar todos os anos. E vimos também que, se até 2050 nada for feito com relação isso, teremos mais plástico do que peixes nos mares.
Na última semana, o presidente americano Donald Trump deixou o Acordo de Paris, o que pode atrapalhar o objetivo do tratado e não reduzir as mudanças climáticas como se esperava. Um dos reflexos deste fenômeno é o aumento da temperatura no planeta, que coloca em risco principalmente a Antártica e o Ártico, causando, entre outros problemas, o derretimento de geleiras. Isso pode causar a elevação do nível dos oceanos e fazer desaparecer lugares como as Ilhas Maldivas, onde o presidente fez um apelo para que Trump não abrisse mão do acordo.
Mas voltando ao Ártico. As consequências das mudanças climáticas por lá são mais fortes e muitas vezes sentidas primeiro do que em outros locais do planeta.
Recentemente, o banco mundial de sementes, criado pela Noruega e que fica no extremo norte no país, na região do Ártico, foi parcialmente inundado por conta do derretimento do permafrost (o solo da região ártica, uma camada de gelo que, ao menos em tese, não deveria derreter). Felizmente, nada se perdeu e o governo norueguês já divulgou um plano para conter possíveis futuros acidentes causados principalmente pelas mudanças climáticas na região.
Estudos mostram que a diminuição da cobertura de gelo no Ártico, foi de 74% entre 2009 e 2016, como divulgou o secretário-geral da Organização Mundial Meteorológica, Petteri Taalas. A área congelada é a menor já registrada por satélite, em quase quatro décadas, em pleno inverno na região, segundo a NASA.
Abaixo, o vídeo feito pela própria NASA mostrando as mudanças na formação de gelo na região do Ártico:
A perda de cobertura de gelo está afetando o ecossistema na região, como o tempo de florescimento dos fitoplânctons, os organismos microscópicos que estão na base da cadeia alimentar marinha. Além disso, os ursos polares, morsas, baleias e outros animais dependem do gelo marinho para sobreviver.
Quem está se beneficiando por esse degelo é o homem, o principal causador dele. Com a diminuição da área congelada, aumenta a invasão humana, expandindo atividades como a pesca, o turismo, o transporte a até a exploração de petróleo na região. Japão, China e Coreia do Sul anunciaram que se uniram para um estudo científico conjunto no oceano Ártico para preparar o terreno para a abertura de novas rotas de transporte e exploração de recursos.
No norte do Canadá, o aumento das temperaturas está fazendo com que as estradas de gelo formadas no longo e denso inverno da região se formem mais tarde que o habitual e derretam antes do esperado. Essas estradas são importantes para o transporte de combustível, madeira, diamantes e carcaças de alce para as minas e comunidades remotas da região.
As pessoas que vivem por lá esperam ansiosamente pelo inverno para que as estradas de gelo, que são a sua única garantia de sobrevivência, deem acesso às comunidades isoladas. Esta crise está se tornando uma questão de vida ou morte. Algumas dessas comunidades quase ficaram sem óleo diesel para manter as luzes acesas porque as estradas de gelo foram abertas semanas mais tarde.
Outro dado alarmante é que o derretimento o solo do ártico está liberando antigos vírus e bactérias que, depois de ficarem tanto tempo “dormentes”, voltam à vida e podem acabar causado grandes epidemias.
Conforme a Terra vai aquecendo, mais camadas do permafrost vão derretendo. Normalmente. cerca de 50 cm das camadas mais superficiais desse solo derretem no verão. Mas com o aquecimento global, camadas mais profundas e antigas têm derretido também, liberando esses vírus e bactérias.
E não apenas esses microrganismos são uma ameaça. Conforme a Terra vai aquecendo, os países do Norte vão se tornando mais suscetíveis a epidemias “do Sul”, como malária, cólera, dengue, que são doenças de temperaturas mais quentes. A elevação de temperatura deixa o clima mais propício para a reprodução de mosquitos vetores dessas doenças, como o tão conhecido Aedes aegypti, responsável por transmitir além da dengue, a febre amarela, Chikungunya e Zika.
O Brasil é uma grande fogueira. Desde terça-feira, o fogo consome o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, Patrimônio Natural da Humanidade, que foi ampliado em junho deste ano. Mais de 200 pessoas tentam em vão apagar as chamas, que já consumiram 35 mil hectares, ou 14,6% da áreas da reserva de Cerrado.
As condições climáticas (ventos fortes, temperaturas acima dos 35°C e a seca) ajudam o fogo a se alastrar, mas o incêndio foi criminoso, segundo Fernando Tatagiba, chefe do parque: “Alguém botou fogo na vegetação dos dois lados da rodovia GO-118 e no interior uma área desmatada que serve justamente como medida de prevenção de incêndios. Certamente se trata de uma pessoa que conhece a região e a nossa dinâmica de combate às chamas”, disse ele. Segue a queima total de nossas riquezas.
É hora de virar o jogo! Segundo o Instituto Ipsos, 80% dos brasileiros estão pessimistas em relação ao futuro ambiental da Terra. A mesma pesquisa aponta que 82% de nós reconhecem que a atividade humana é a principal causa das mudanças climáticas. Ou seja: a gente tem consciência de que a situação é grave e que a culpa é nossa. E essa percepção é geral, pois as cerca de 18 mil pessoas de 23 países entrevistadas pelo Ipsos chegaram às mesmas conclusões.
Se reconhecemos que o problema existe e que somos a sua causa, que tal passarmos agora para a terceira fase? Está em nossas mãos salvar a natureza. Então, o que estamos esperando? Vamos à ação!
Há dois anos, os países do G7 haviam se comprometido, em reunião na Alemanha, a não usar mais combustíveis fósseis até o fim do século. Além disso, o ex-presidente americano Barack Obama anunciou o Plano de Energia Limpa, prevendo redução de 32% das emissões das usinas termelétricas até 2030. Porém, o atual presidente dos EUA, Donald Trump, tem se empenhado em demolir o legado do antecessor. No último encontro do grupo, na semana passada, na Sicília, ele mais uma vez adiou sua decisão de seu país permanecer ou não no Acordo de Paris. Entretanto, os líderes de Alemanha, Reino Unido, Itália, Canadá, Japão e França deram um bom exemplo de ação ao enquadrá-lo, anunciando que vão continuar a seguir suas agendas ambientais, independentemente da resposta americana.
Enquanto isso, em Brasília, governo e bancada ruralista se aproveitam do caos reinante para aprovar a toque de caixa medidas que atingem em cheio a saúde do meio ambiente e que podem comprometer definitivamente o nosso futuro, além de impedir que o país cumpra as metas do Acordo de Paris. Tramitam no Congresso Nacional projetos que reduzem áreas de florestas, facilitam a venda de terras a estrangeiros e afrouxam as regras de licenciamento ambiental. Além disso, voltou à pauta este ano o novo código de mineração, que estava engavetado desde 2015 e que simplesmente ignora aspectos sociais e ambientais que podem ser afetados pela atividade. Não podemos ficar de braços cruzados!
Apesar de estarmos na época mais propícia para o consumo vinho no hemisfério sul devido as temperaturas amenas, as videiras estão sendo podadas para começar a produção durante a primavera e os produtores precisam lidar com as geadas e as baixas temperaturas que podem prejudicar a plantação.
Intempéries como granizo, seca e incêndios também afetam a produção de uva, seja no Brasil, no Uruguai, Chile ou Argentina, onde fica Mendonza, uma das maiores regiões produtoras de vinho do mundo.
A pesquisa Global Wine Risk Index feita em mais de 130 países e 110 mil vinícolas, coloca a região argentina como a que mais sofre com as mudanças climáticas quando relacionado à produção mundial de vinho. Mendoza é atingida por todos esses problemas, além dos terremotos que frequentemente sacodem a região.
Desenvolvido por uma equipe de geofísicos, geocientistas, meteorologistas e economistas, o estudo utilizou de dados sobre as perdas da indústria vitivinícola devido aos fenômenos naturais. No Brasil, a região Sul que é a maior produtora de vinho do país, também está vulnerável às mudanças climáticas.
Não são só as vinícolas da América do Sul que tem sofrem com as mudanças climáticas. Na França, a produção caiu 10% em 2016 quando comparada ao ano anterior. Essa queda está associada principalmente ao aumento do número de geadas. Foi então que enólogos das regiões de Champagne, Bordeaux e Borgonha instalaram fogueiras, aquecedores e estão usando até helicópteros para salvar as plantações. Para evitar prejuízo, os agricultores instalaram tochas de fogo para criar correntes de ar sobre as videiras e evitar que a geada as atinja.
A Itália, que detém aproximadamente 18% da produção mundial, também está prejudicada pelas mudanças climáticas. Produtores da região de Vêneto, no norte do país, assim com os franceses, já estimam uma grande perda na safra deste ano, o que afetará o valor dos vinhos daqui alguns anos, quando estas safras chegarem ao mercado.
Mas é do “país da bota” também que uma invenção chama atenção. O Wineleather: couro vegetal com resíduos de vinho. A produção não utiliza água, ácido ou metais pesados, além de envolver animais. O produto criado por um arquiteto é composto de fibras e óleos contidos no bagaço da uva: peles, sementes e caules. Todos esses componentes podem ser obtidos durante a produção do vinho, ou seja, é uma maneira de aproveitar algo que já seria descartado. A ideia tem tudo para ser um sucesso, contato que as produções de uva e vinho resistam às mudanças climáticas.
Fotos: Universo Evino, Bom Gourmet e Ciclo Vivo
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