12 \12\America/Sao_Paulo março \12\America/Sao_Paulo 2018 | Belo Monte
Há mais de seis anos a gente vem batendo nessa tecla: a corrupção é insustentável. Em 15 de novembro de 2011, foi lançado um vídeo-manifesto, É a Gota D’Água + 10, questionando a maior obra do Programa de Aceleramento do Crescimento (PAC) do governo brasileiro: a Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. O monstrengo já custou mais de R$ 30 bilhões e sempre teve sua eficiência e os seus relatórios de impactos socioambientais questionados por especialistas. O Xingu é um rio de grandes variações e durante oito meses por ano praticamente seca. Ele também guarda as maiores diversidades biológica e social da Amazônia. Em uma semana, a campanha reuniu mais de um milhão de assinaturas e entrou para história da Internet. Fomos atacados por todos os lados, acusados de querermos brecar o desenvolvimento do país. Mas o tempo, senhor da razão, mostrou que estávamos certos: a conta dos prejuízos causados pela usina ainda não fecharam.
Hoje (9/3), a pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal no Paraná expediu mandados de busca e apreensão em Curitiba e São Paulo, com o objetivo de aprofundar as investigações sobre o pagamento de propina na obra. Batizada Buona Sorte pela Polícia Federal, a operação faz parte da 49ª (não perca as contas) fase da Lava-Jato. A construção de Belo Monte começou a ser planejada ainda nos anos 1970, durante a ditadura militar. O PT o tirou do papel a fórceps, graças a um dispositivo muito usado pelos generais, a “suspensão de segurança”, o que levou o Brasil a ser denunciado na Organização dos Estados Americanos (OEA). E o principal alvo da Buona Sorte, coincidentemente, é outro personagem daquela época sombria, o ex-ministro Antônio Delfim Netto, que teria embolsado R$ 15 milhões. Belo Monte parece ter sido construída para gerar corrupção, e não energia.
A operação se baseia em fortes indícios de que o consórcio Norte Energia foi indevidamente favorecido para vencer o leilão destinado à concessão da usina. As provas recolhidas indicam que o Delfim recebeu 10% do percentual pago pelas construtoras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e J. Malucelli, enquanto o restante da propina foi dividido entre o PMDB e o PT, ficando 45% para cada partido. Para a procuradora da República Jerusa Burmann Viecili, integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, “as provas indicam que o complexo esquema criminoso verificado no âmbito da Petrobras se expandiu pelo país e alcançou também a Eletrobrás, em especial nos negócios relativos à concessão e construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Essa obra, além de ter ocasionado graves impactos sociais e ambientais na região que já haviam sido demonstrados pelo Ministério Público Federal, também redundou em elevados prejuízos econômicos para toda sociedade”.
Que belo papelão. Nossos rios são nossa maior riqueza: em nome de que permitimos absurdos desse tipo? De 18 a 23 deste mês, acontece em Brasília o 8º Fórum Mundial da Água. Será a primeira vez que o evento será realizados num país do Hemisfério Sul. Paralelamente, a mesma cidade receberá o Fórum Alternativo Mundial da Água 2018 (Fama). Vamos aproveitar a ocasião para conversarmos mais sobre isso? Uma Gota no Oceano e entidades parceiras estão lançando, junto com o diretor Luiz Fernando Carvalho, a campanha Em Nome de Quê? pensando nisso. Em breve a gente dá mais detalhes.
Imagina que você mora na sucursal do Paraíso e resolvem transformá-la numa filial do Inferno. Foi o que aconteceu com Gilliard Juruna, cacique da aldeia Muratu, na Volta Grande do Xingu. Desde que construíram a Usina de Belo Monte, bateu 18h todo mundo se tranca em casa para fugir dos mosquitos, que se multiplicaram de forma assustadora. Acabaram-se os cochilos na rede e as pescarias no fim da tarde e os banhos de rio no pôr-do-sol.
Na mesma proporção, os peixes do rio sumiram. O pacu, iguaria favorita dos Juruna, comia frutas quem caíam das árvores das margens do rio. Com a mudança artificial na paisagem, todo ecossistema local foi prejudicado. E a Volta Grande ainda pode ser aberta à mineração, com a Belo Sun. Os estragos que estamos fazendo a Amazônia já começam a se refletir no resto do país. Reservatórios d’água secam no Sudeste e no Centro-Oeste. O problema não é só do Cacique Gilliard.
8 \08\America/Sao_Paulo dezembro \08\America/Sao_Paulo 2017 | Belo Sun
Sinal vermelho para Belo Sun: a Justiça anulou ontem a licença de instalação da mineradora canadense. Se quiserem realmente extrair ouro da Volta Grande do Xingu, vão ter que fazer estudos de impacto ambiental sérios e realizar um processo de Consulta Livre, Prévia e Informada (CLPI) junto aos povos indígenas impactados, como manda o figurino.
Cerca de 80% da vazão natural do rio foi desviada na região, o que aumenta o risco de acidentes ou vazamentos da barragem de rejeitos minerais. O que poderia causar uma tragédia de Mariana de dimensões amazônicas.
23 \23\America/Sao_Paulo maio \23\America/Sao_Paulo 2018 | Rios
Assim que encheram o principal reservatório de Belo Monte, foram encontradas mais de 16 toneladas de peixes mortos no Rio Xingu. Isso foi em 2015; mas em janeiro deste ano, o Ibama determinou a paralisação das turbinas da hidrelétrica, depois de uma nova mortandade.
Agora é a Usina de Colíder, no Rio Teles Pires (afluente do Tapajós) que está sendo investigada pela polícia de Mato Grosso por peixecídio em massa. A Secretaria de Meio Ambiente local acusa a empresa de dificultar as apurações. Tem até ocultação de cadáver nesse crime.