Mensagem numa garrafa

Mensagem numa garrafa

Chega do Oceano uma mensagem numa garrafa para nos lembrar que a vida na Terra nasceu nele, e sem ele não existirá mais. Em 2017, a ONU decretou o período entre 2021 e 2030 como a Década das Nações Unidas de Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável. Mas não podemos nos dar ao luxo de esperar mais oito anos para dar uma resposta firme à esse SOS que nos chega pelas ondas. Por isso, a organização está promovendo esta semana a 2ª Conferência do Oceano. Em discussão, estão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Vida no Mar (ODS 14). Uma das principais metas é reduzir a poluição marinha até 2025 e o evento se realiza em Lisboa, Portugal.

Por mares nunca dantes navegados os portugueses deram por cá em 1500. Para o bem ou para o mal, essa aventura resultou num país de dimensões continentais. O Brasil tem um litoral, cantado mundo afora em prosa e verso, de 7.367 km de extensão; o de Portugal mede miúdos 1.610 km, contando Ilha de Madeira e Açores. Mas enquanto eles emplacaram 393 praias Bandeira Azul – certificado que leva em conta critérios como a qualidade da água e a promoção de atividades sobre educação ambiental – em 2022, nós ficamos somente com 29. E, vergonha das vergonhas, o Rio de Janeiro perdeu duas. Periga a Garota de Ipanema ter que ceder seu posto para a Rapariga de Cascais.

Cuidamos tão mal de nosso maior chamariz de turistas como de nossas florestas. Os peritos da Polícia Federal calcularam em R$ 525,3 milhões os prejuízos causados pelo vazamento de óleo no litoral nordestino em 2019. O acidente foi causado por um navio de bandeira grega, mas a negligência na hora de tomar providências é verde e amarela, e ninguém tasca. Quem dera, porém, este fosse um defeito só nosso e que o turismo fosse o único atingido. A revista “Science” publicou recentemente uma pesquisa das universidades de Nanquim (China), do Sul da Flórida e Estadual da Flórida (EUA), que o óleo derramado no oceano entre 2014 e 2019 soma uma macha de mais de 1,5 milhão de km² – o que dá duas Franças. Isso é oferenda que se faça àquele a quem devemos a própria existência?

Quando fazemos do berço da vida lata de lixo estamos afetando o clima, a biodiversidade marinha, a economia e pondo em risco até o ar que respiramos. Um estudo de pesquisadores das universidades de Queensland e Melbourne (Austrália), da Califórnia (EUA), da Colúmbia Britânica (Canadá) e da Sociedade para Conservação da Vida Selvagem (WCS), publicado em fevereiro na revista “Conservation Biology” aponta que 84,5% das regiões costeiras do planeta sofreram algum impacto resultante da atividade humana. E só 16,4% delas são protegidas. “Essa conservação é essencial especialmente para aqueles que necessitam dos recursos oceânicos para sobrevivência, como por ser fonte de alimento ou renda, ou por ajudar na prevenção e redução de eventos de tempestade extremos”, alerta Brooke Williams, pesquisadora de Queensland.

Cerca de 74% da população do mundo vive no litoral e mais de 3 bilhões de pessoas dependem do mar para ganhar o pão de cada dia. Mas esse é o menor dos problemas: o oceano também produz 54% do oxigênio que respiramos, absorve de 20% a 30% de nossas emissões de CO₂ e 90% do calor gerado efeito estufa. Ele pode até cobrir 2/3 do planeta, mas tem seus limites; e nós não paramos de esticar a corda: em 2021 o seu recorde de temperatura foi quebrado pelo sexto ano seguido, de acordo com uma pesquisa de 23 cientistas de 14 instituições, publicada na “Advances in Atmospheric Sciences”.

O estudo foi baseado em dados coletados pelo Instituto de Física Atmosférica da Academia Chinesa de Ciências e pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) desde os anos 1950. O calor pode levar a vida marinha à extinção em massa em 2300 e no desaparecimento de um bom número de espécies num futuro mais próximo. E aí não vai faltar só peixe, mas também ar, já que ele se origina, principalmente, da fotossíntese do fitoplâncton, a flora microscópica marinha. “O calor oceânico está aumentando implacavelmente, globalmente, e esse é um indicador primário da mudança climática induzida pelo homem”, explica um dos autores, Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica no Colorado.

Uma coisa leva à outra: a Terra esquenta, o mar esquenta junto; e quando o mar esquenta, a Terra esquenta ainda mais. E quanto mais o oceano aquece, mais sobe o seu nível. É fácil de entender, basta observar o que acontece quando a gente bota o leite para ferver. Outro relatório, divulgado no mês passado pela da Organização Mundial Meteorológica (OMM), revela que o nível do mar subiu 4,5 cm na última década. O aumento de 2013 a 2021 mais que dobrou 1993 a 2002. Até 2030, a água poderá estar batendo nas canelas dos moradores de Veneza, Amsterdã, Nova Orleans, Bangkok e Ho Chi Min.

Das 22 milhões de toneladas de lixo plástico produzido por ano no mundo, entre cinco e 12 milhões de toneladas vão parar no mar. O material responde por 80% dos resíduos que chegam nele. E a gente continua fingindo que o problema não existe: a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em relatório divulgado na semana passada, alerta que a produção anual de plásticos deve triplicar até 2060, chegando a 1,2 bilhão de toneladas. Hoje, isso resulta num prejuízo global de US$ 13 bilhões por ano – contando o que se gasta com limpeza e perdas na pesca e outras indústrias.

“Está claro que manter a mesma forma como usamos, produzimos e gerenciamos o plástico não é mais possível”, diz Peter Börkey, especialista em política ambiental da OCDE. O Brasil é o sexto país que mais polui o mar com plástico, segundo um levantamento da plataforma Our World in Data. O material corresponde a 48,5% do lixo despejado em nosso litoral, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Somos gotas no oceano; temos que reagir como um tsunami a sua mensagem na garrafa.

 

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Agora o diagnóstico é oficial: você não só pode ter micropartículas plásticas correndo nas veias como, muito provavelmente, as carrega nos pulmões. É para tapar o nariz, não? De solução prática para substituir papel, metal, vidro e outras matérias-primas, o plástico vem se tornado uma infestação que está se espalhando implacavelmente por nossos corpos e pelo planeta. Segundo o estudo “A ameaça global da poluição plástica”, assinado por cientistas alemães, suecos e noruegueses, publicado em julho passado na revista “Science”, estamos chegando ao ponto de não retorno – quando os danos ao meio ambiente serão irreversíveis. Em outubro, foi anunciado na Plastic Health Summit, conferência realizada em Amsterdã, na Holanda, que temos apenas nove anos para reverter este quadro.

Esta contagem regressiva vem se acelerando. Desde 2019 sabemos que há microplástico na água que bebemos e em nossa comida; em agosto de 2020, pesquisadores da Universidade do Arizona encontraram vestígios do material em todas as 47 autópsias realizadas em amostras de pulmão, fígado, baço e rins humanos examinadas. Em março deste ano, cientistas da Universidade Livre de Amsterdã, detectaram fragmentos no sangue de 17 dos 22 doadores anônimos testados. “A grande questão é: o que está acontecendo em nosso corpo? As partículas ficam retidas no corpo? E esses níveis são suficientemente altos para desencadear doenças?”, alertou o professor Dick Vethaak.

Ainda é cedo para dimensionar os danos que beber, comer e respirar plástico podem causar diretamente à nossa saúde; mas os estragos que o material vem causando à Terra, o grande organismo onde vivemos, são conhecidos e bem visíveis. Micropartículas plásticas estão por todos os lados, da Fossa das Marianas ao Monte Everest, e chegam até mesmo à atmosfera. No mês passado, descobriu-se que estamos aspirando plástico: um estudo da Hull York Medical School, na Inglaterra, publicado na revista “Science of the Total Environment” descobriu, pela primeira vez, partículas plásticas em pulmões de pessoas vivas. O resultado espantou até a professora Laura Sadofsky, sua principal autora. “Não esperávamos encontrar o maior número de partículas nas regiões inferiores dos pulmões, ou partículas dos tamanhos que encontramos. É surpreendente, pois as vias aéreas são menores nas partes inferiores dos pulmões e esperávamos que partículas desses tamanhos fossem filtradas ou presas antes de chegar tão fundo”.

Lançado a dez dias do início da COP26, que foi realizada no início de novembro passado na Escócia, o relatório “Da Poluição à Solução: Uma Análise Global sobre Lixo Marinho e Poluição Plástica”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), deu uma ideia do tamanho da encrenca. De acordo com ele, o material responde por 85% dos resíduos que chegam ao mar e que até 2040 a quantidade deve triplicar, caso nada seja feito, podendo chegar a 37 milhões de toneladas por ano. “Esta pesquisa fornece o argumento científico mais forte até hoje para responder à urgência, agir coletivamente e proteger e restaurar nossos oceanos e todos os ecossistemas afetados pela poluição em seu curso”, disse a diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen.

A ambientalista dinamarquesa ressalta que o plástico também tem forte ligação com as mudanças climáticas. Calcula-se que em 2015 ele era responsável pela geração de 1,7 gigatoneladas de CO₂ equivalente (GtCO2e), e em 2050 este número deverá chegar a 6,5 GtCO2e, ou 15% do total global. E os resíduos que chegam ao mar também ajudam a temperatura do planeta a subir. As micropartículas se unem à flora marinha – microalgas, bactérias e fitoplânctons –, e prejudicam sua capacidade de fazer fotossíntese: “Se você para de consumir gás carbônico, o oceano acaba perdendo um pouco do seu papel em controlar o efeito estufa”, explicou Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico da USP e coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano.

No dia 2 de março, a ONU deu o pontapé inicial para a criação do primeiro tratado global contra a poluição por plástico, durante a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Anue), que se realizou em Nairóbi, no Quênia. A resolução recebeu o aval de nada menos que 175 países e, por isso, foi comparada ao Acordo de Paris. Mas, assim como o pacto firmado em 2015, na França, ele só vai sair do papel se houver pressão popular – e tudo indica que haverá. Sob encomenda das ONGs Plastic Free Foundation e WWF, o Instituto Ipsos fez uma pesquisa no fim do ano passado, com mais de 20 mil pessoas de 28 países, incluindo o Brasil. O resultado foi uma goleada: cerca de 90% dos entrevistados se disseram favoráveis a uma coalizão global para buscar soluções. A maioria já entendeu que deter essa infestação depende de todos nós; falta convencer os desentendidos.

 

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O mar é o maior leva-e-traz. A ONU decretou que 2021 daria início à Década da Ciência Oceânica, e ele mandou logo o seu recado: no quarto dia do ano, a Praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, foi tomada por um tsunami de plástico. As imagens ganharam o mundo e denunciaram que, mesmo que tenhamos problemas muito sérios para nos preocupar no momento – o coronavírus e as mudanças climáticas –, não podemos nos descuidar de outros tão graves quanto. Oito toneladas de plástico vão parar no oceano anualmente – o equivalente a um caminhão de lixo por minuto. Os mares absorvem 1/3 do CO₂ gerado pela atividade humana, produzem mais de 55% do oxigênio que respiramos, ajudam a equilibrar o clima e dão sustento a mais de 3 bilhões de pessoas. A vida nasceu no mar e sem mar, não há vida. E nós o estamos sufocando – e não só a ele.

Em março passado, uma baleia foi encontrada morta na costa da Escócia com 100 kg de plástico no estômago. Mas animais marinhos que morrem ao ingerir ou asfixiados pelo material são só a parte visível dessa tragédia. Uma baleia absorve a mesma quantidade de carbono que 35 mil árvores, mas somente sob o microscópio se tem a verdadeira dimensão dela. Quem faz a maior parte do trabalho são os chamados fitoplânctons, flora marinha invisível a olho nu, via fotossíntese; já microplásticos são fragmentos minúsculos produzidos na fabricação e durante a decomposição de resíduos. E, segundo um relatório da ONG Center of International Environmental Law, essas partículas podem ter entrado na cadeia alimentar desse ecossistema microscópico e vital, com consequências ainda imprevisíveis. Enquanto isso, uma pesquisa do Boston Consulting Group, da WWF e da Fundação Ellen MacArthur alerta que o volume de plástico que chega ao oceano deve triplicar nos próximos 20 anos.

O mar deu o alerta, mas o problema não é só dele. A produção mundial tem crescido – em 2020 houve um aumento excepcional, causado pela necessidade de se produzir equipamento de proteção contra a Covid-19, mas a curva já era ascendente – e apenas 9% do que sai das fábricas por ano é reciclado. Se você acordou com gosto de cabo de guarda-chuva na boca depois das festas de fim de ano, é possível que não tenha exagerado na dose: podia ter plástico na sua cerveja. Micropartículas do material já entraram para o nosso cardápio, ainda que a contragosto. Ingerimos – ou inalamos – até 120 mil fragmentos por ano. Um estudo da Universidade de Victoria, no Canadá, concluiu que, entre as substâncias analisadas, a água engarrafada, a cerveja e o ar que respiramos eram as mais contaminadas. Pesquisadores encontraram microplástico no Everest, a mais de 8 mil metros de altura. Respirar é aspirar plástico.

Até quem ainda não nasceu está sendo afetado – e não estamos nos referindo às gerações futuras. Cientistas italianos identificaram a presença de microplásticos na placenta de mulheres grávidas. Eles temem que isso possa afetar a formação do bebê. “Uma vez que o papel da placenta é crucial no desenvolvimento do feto, a presença de materiais potencialmente nocivos é um motivo de grande preocupação”, diz o relatório. As partículas encontradas podem ter vindo de cosméticos ou produtos de higiene usados pelas mulheres ou de embalagens que manusearam. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os microplásticos podem conter elementos químicos tóxicos, reter e acumular micro-organismos que causam doenças. O útero materno é o nosso oceano particular.

A parte que nos cabe: o Brasil é o maior fabricante de plástico na América Latina, com 6,67 milhões de toneladas por ano. A fatia desse montante não é reutilizada e nem recolhida, e quase 5% vai parar no Atlântico – o que dá 325 mil toneladas. Os dados são da ONG Oceana Brasil. A legislação no país é frouxa. “Fica conveniente transferir essa responsabilidade de tratamento e descarte só para o consumidor e os municípios, ignorando o fato daquilo que é colocado por toda a indústria no mercado. É preciso se voltar, também, para o início do problema, com o objetivo de reduzir a quantidade de plástico descartável produzida na fonte”, diz Lara Iwanicki, cientista da organização. não se trata de punir a indústria, mas de procurar soluções criativas. “Incentivar a criação de outras alternativas de embalagens, por exemplo, tem o poder de impulsionar inovação, criar novos mercados para soluções criativas. Tem uma economia nova atrás disso”, lembra Lara.

Nossas escolhas definem o nosso futuro.

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Você provavelmente tem plástico correndo nas veias. O novo coronavírus e a incineração da Amazônia vêm ganhando as manchetes, mas não dá para esperar que o tal do “novo normal” se estabeleça para resolver um problema que pode se tornar insolúvel. Um estudo do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha e do Instituto Robert Koch encontrou vestígios de plástico em 97% do sangue e da urina de 2.500 crianças e jovens de 3 a 17 anos, coletadas entre 2014 e 2017. “Nosso estudo mostra claramente que os aditivos plásticos, que estão crescendo em produção, também estão aparecendo cada vez mais no organismo das pessoas”, disse a pesquisadora alemã Marike Kolossa-Gehring. Em outra pesquisa, da ONG Plastic Oceans International, cientistas analisaram 47 amostras de órgãos humanos e encontram microplástico e nanoplástico – fragmentos que medem de 0,001 milímetro a 5 milímetros – em todas. Cada pessoa pode ingerir – ou aspirar, já que elas também ficam em suspensão no ar – até 121 mil partículas por ano, de acordo com a Universidade de Victoria, no Canadá. Isso não embrulha o seu estômago?

Ainda não é possível mensurar com exatidão os danos que essa invasão plástica pode causar à saúde humana. Mas o estudo alemão alerta para os altos níveis de ácido perfluorooctanóico (PFOA), usado em panelas antiaderentes e em roupas impermeáveis, encontrados nas amostras. A substância pode atacar o sistema reprodutivo e o fígado – a União Europeia vai bani-lo a partir de 2021 –, enquanto outras podem causar obesidade, alterações no aparelho reprodutivo e câncer, além de atrasar o desenvolvimento de crianças. Já a pesquisa canadense adverte que também podemos ser contaminados quando consumimos produtos embalados em plástico, incluindo água mineral. Da década de 1950 até 2017 foram produzidas 8,3 bilhões de toneladas de plástico. Aproximadamente 30% desse total ainda está sendo usado, mas só 9% foi reciclado. No ano de 1950, fabricou-se 2,3 milhões de toneladas; em 2015, este número saltou para 448 milhões de toneladas e a produção poderá dobrar até 2050 – a pandemia de Covid-19 deve agravar mais ainda esse quadro, já que exige a produção de material descartável.

Segundo o Banco Mundial e a WWF, o Brasil produz 11,35 milhões de toneladas por ano de lixo plástico – fica atrás somente de EUA, China e Índia – e recicla apenas 145 mil toneladas, 1,28% do total. O mesmo estudo aponta que mais de 104 milhões de toneladas de plástico poluirão o meio ambiente até 2030. Hoje, calcula-se que entre 4,8 milhões e 12,7 milhões de toneladas do material cheguem aos oceanos todos os anos e que essa quantidade deve triplicar até 2040. Sabe-se que há uma ilha de detritos do tamanho do estado do Amazonas flutuando no Pacífico; agora, cientistas do Centro Nacional Oceanográfico, do Reino Unido, descobriram que pode haver dez vezes mais plástico no Atlântico do que se supunha, entre 12 e 21 milhões de toneladas. Todo esse lixo põe em risco a vida marinha – e a nossa, já que consumimos peixes que podem estar contaminados. No fim do ano passado, uma baleia de 10 anos foi encontrada morta na Escócia com aproximadamente 100 kg de plástico no estômago. A fabricação do material também contribui para o avanço das mudanças climáticas, já que a sua base é formada por combustíveis fósseis – não só petróleo, como gás e carvão. Um relatório da ONG Center of International Environmental Law diz que se a produção continuar crescendo nos níveis atuais, ela vai responder por até 13% da quantidade de CO₂ que o mundo pode emitir antes de passar de 1,5º C de aumento da temperatura previsto pelo Acordo de Paris.

Mas o que fazer? No ano que vem, entra em vigor na União Europeia um imposto sobre o material. Cada país do bloco terá que pagar 80 centavos de euro por quilo de plástico não reciclável. Mas não dá para parar a produção de uma hora para outra, segundo um estudo da Universidade Heriot-Watt, no Reino Unido. Substituir os plásticos por vidro e metal aumentaria o consumo de água e energia. Já a reciclagem é um excelente negócio: uma tonelada de plástico reciclado significa uma economia de 5.774 kWh de energia e 16,3 barris de petróleo, de acordo com a Universidade de Stanford, nos EUA. Outra opção é investir pesado em pesquisa de materiais de origem orgânica, biodegradáveis, como o leite, a mandioca e o bagaço de cana-de-açúcar. A Unicamp está desenvolvendo um plástico à base de amido e gelatina que, além de biodegradável, é comestível. Segundo a ONG Ocean Cleanup, as redes de pesca respondem por 46% da poluição marinha por plásticos. Hoje feitos de nylon, esses utensílios antigamente eram manufaturados com materiais como grama, linho, fibras de árvores e algodão. A solução pode estar no passado.

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Tropical e sustentável

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Para se livrar do danoso uso do plástico, um supermercado tailandês teve a grande ideia de substituir embalagens tradicionais por folhas de bananeira. Apesar de novidade nas prateleiras do mercado, o material já é usado na culinária de povos indígenas no Brasil e também na Índia. Agora, ele embala frutas, verduras e legumes. Fica a dica para os nossos produtores!

Via Ciclo Vivo
Foto: Perfect Homes Chiangmai

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