Errar é humano, insistir no erro é desumano

Errar é humano, insistir no erro é desumano

Errar é humano. Insistir em negar as evidências é desumano.

“Nos últimos anos, políticos irresponsáveis minaram deliberadamente a confiança na ciência, nas autoridades e nos meios de comunicação”, escreveu no último dia 20 o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor do best-seller “Sapiens: de animais a deuses, uma breve história da Humanidade”. Publicado no jornal inglês “Financial Times”, o artigo não por acaso se chama “O mundo depois do coronavírus”. Nele, Harari é direto: “as decisões que os governos e os povos tomarem, nas próximas semanas, provavelmente moldarão o mundo que teremos nos próximos anos”.

Não dá mais para fingir: pandemias, como a causada pelo novo coronavírus, e catástrofes, como os incêndios que castigaram o Brasil em 2019, deixarão de ser acidentes de percurso e se tornarão o novo normal. Hesitar pode custar vidas. Vamos aproveitar a quarentena para refletir?

Não adianta erguer muros em torno de cada país: doenças também se espalham pelo ar e as emissões de CO₂, sejam do Brasil ou do Japão, se acumulam na mesma atmosfera. É um problema comum a todos. A solução também depende da democratização dos cuidados e da informação. “Tanto a epidemia, quanto a crise econômica são globais, e apenas poderão ser resolvidas com a cooperação global. Para derrotar a pandemia, precisamos compartilhar globalmente a informação”, afirma o historiador israelense. Só assim conseguiremos criar barreiras eficazes contra os inimigos que nós mesmos criamos.

Quem acompanha as notícias e os artigos científicos sobre a crise climática já sabe que nosso modo de vida tem duros impactos no planeta e na saúde das próximas gerações. No entanto, a realidade atual impõe pressa: não se fala mais em décadas, mas sim em semanas. Chegamos ao ponto em que não dá mais para fechar os ouvidos (ou as abas do seu navegador) para os cientistas. “A época da pós-verdade e das fakenews nutriu uma apatia à realidade. E aqui está um vírus real – e não um de computador – aquele que causa uma comoção. A realidade resiste e volta a se fazer notar no formato de um vírus inimigo” escreveu o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han.

E a sociedade brasileira está mostrando que quer ouvir a Ciência. Esta semana, a entrevista do microbiologista Atila Iamarino bateu o recorde histórico de audiência do programa Roda Viva, com repercussão intensa nas redes sociais. Há um mês, quem poderia imaginar que esta marca seria conquistada por um microbiologista?

Uma mudança imposta por um vírus, por uma quarentena que levará provavelmente meses. Nesse tempo, pais estão convivendo mais com seus filhos e vizinhos estão interagindo, mesmo que pelas varandas.

A próxima mudança deverá ser tomada por nós. Será um desdobramento de todas as reflexões levantadas durante esta crise. Para nos salvar e salvar nosso planeta é preciso repensar e remodelar nosso jeito de produzir, de gerir, de governar, de ser cidadão, de existir. Byung-Chul arrematou: “Não podemos deixar a revolução nas mãos do vírus. Precisamos acreditar que após o vírus virá uma revolução humana”.

O covid-19 já nos traz uma contundente evidência: é possível reduzir rapidamente as emissões de gases do efeito estufa. O fenômeno foi observado imediatamente nos países mais atingidos, China e Itália. E os europeus também já respiram um ar mais puro nesses tempos de isolamento. Isso não faz pensar que é possível adotar um modelo de desenvolvimento diferente?

Voltamos a nossa recorrente questão: o que será dos mais vulneráveis?

O novo mundo pressupõe outro modelo econômico, mais sustentável e solidário. Filantropia? Taxação de grandes fortunas? Construção de um grande fundo social? O caminho está aberto a várias possibilidades. Cabe a nós discutir qual é a melhor rota a seguir. Já estamos cientes de que somos gotas num mesmo oceano.

#Coronavirus #COVID19 #Pandemia #Ciência #CriseClimática #Planeta #DesenvolvimentoSustentável

Saiba mais: 

Jornal Nacional, edição do dia 31 de março

Yuval Noah Harari: the world after coronavirus

O coronavírus de hoje e o mundo de amanhã, segundo o filósofo Byung-Chul Han

Roda Viva – entrevista com Atila Iamarino

A crise que definirá nossa geração

Plataforma da Universidade de Washington para monitoramento dos casos de Coronavírus

Aldeias pedem ajuda contra coronavírus: “Sensação de que somos invisíveis”

Coronavírus e fascismo de Bolsonaro nos fazem esperar por nova era, diz Sidarta

Isolamento por coronavírus deixa ar mais limpo em cidades da Europa

Nossas desigualdades são vergonhosas, inconstitucionais, estúpidas e matam

 

O pequi Kĩsêdjê tem poder!

O pequi Kĩsêdjê tem poder!

Nada como começar a semana com uma boa notícia. Contas feitas, já dá para dizer que o povo Kĩsêdjê da Terra Indígena (TI) Wawi, no Mato Grosso, bateu seu próprio recorde de produção de óleo de pequi: 315 litros em 2018. Tudo começou em 2006, quando 263 árvores foram plantadas. Das sementes e da polpa dos pequizeiros, extraíram-se o produto e uma vitória com um simbolismo imenso.

Quando os Kĩsêdjê reconquistaram suas terras tradicionais, na bacia do Rio Pacas, se defrontaram com um território degradado por fazendeiros invasores. A TI Wawi foi homologada em 1998, mas até hoje sofre pressão de grandes agricultores. Mas ali o povo Kĩsêdjê se mantém, apresentando como resultado a recuperação do solo e uma importante geração de renda. E tem mais coisa boa: O óleo de pequi foi atração em setembro de 2018 em Turim, na Itália, no evento Terra Madre do Slow Food Internacional. Um sucesso danado.

Via Instituto Socioambiental – ISA

Foto: Rogério Assis/ISA

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Pense no verde antes de apertar o verde

Pense no verde antes de apertar o verde

Pense muito bem antes de apertar o verde. O desmatamento é a segunda maior causa das mudanças climáticas. Que providências os candidatos à Presidência planejam tomar para deter a destruição do nosso verde?

O Observatório do Clima analisou os programas de governos dos principais deles e montou um pequeno guia para o eleitor. O que eles tê a dizer a respeito do Acordo de Paris, do investimento em energias renováveis e desenvolvimento sustentável? E bom pensar bem, pois a próxima oportunidade é só daqui a 4 anos.

Foto: MundoGEO

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Mais comida, menos desmatamento

Mais comida, menos desmatamento

Dinheiro não é capim, terra tem fim e comida não cai do céu. Uma das principais justificativas para o desmatamento – não somente no Brasil, mas no mundo inteiro – é a de que é preciso abrir mais espaço para plantar e criar gado para alimentar a população que só cresce. Se deixarmos as motosserras e os tratores de lado, e usarmos uma calculadora, porém, vamos ver que esses números não batem. Do campo ao prato, o roteiro inclui mau aproveitamento ou uso inapropriado da terra, problemas com armazenamento e transporte, quantidades obscenas de alimentos em bom estado que vão para o lixo e a falta de planejamento. Em uma palavra: desperdício – de recursos naturais, financeiros e humanos.

Vamos começar pela quantidade de comida que é jogada fora. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 1,3 bilhão de toneladas – ou um terço de todos os alimentos produzidos no planeta anualmente – vão para o lixo. Com apenas um quarto do que é desperdiçado hoje, seria possível alimentar 870 milhões de famintos e acabar com a fome no mundo. No Brasil, contando apenas os supermercados, todos os anos vão para o lixo R$ 7,1 bilhões em comida – cifra equivalente ao faturamento anual do Grupo Pão de Açúcar.

Em nosso país, o desperdício também acontece bem antes das prateleiras. Por séculos, as dimensões e abundância de terras parecem ter afrouxado a preocupação com um uso mais eficiente – e sustentável – do solo. Uma navegada na área de cobertura e uso do solo do recém atualizado site MapBiomas dá a dimensão exata do quanto do território nacional é ocupado, por exemplo, com pastos (150.117.868,30 hectares) e sua proporção em relação, por exemplo, à área preenchida por “formações florestais” (430.775.866,56 hectares). Grande extensão, porém, não representa grande produção. Na Amazônia, nada menos que 65% do desmatamento tem como objetivo ampliar as atividades pecuárias. Mas iniciativas como os da Pecuária Sustentável da Amazônia (Pecsa), mostram que desmatar para ampliar a pastagem é um mau negócio, e dá para produzir mais, melhor e com maior rentabilidade de forma sustentável.

Pastos na Amazônia costumam se esgotar em poucos anos e, depois disso, são simplesmente abandonados por pecuaristas que partem para abrir novas clareiras. Esse é o principal motivo para que, a despeito de vir crescendo muito na região, a soja seja responsável por apenas 1,2% do desmatamento na região. Não por acaso, pastos exauridos são ocupados justamente por essa cultura que está submetida a uma moratória – que veta o financiamento e a aquisição da soja cultivada em áreas desmatadas do bioma Amazônia a partir de julho de 2008. O boi desmatou, a soja ocupa. Em 2017, houve a maior ocupação em cinco anos.

Como outras commodities, porém, a soja está muito mais presente no prato da balança comercial do que sobre a mesa dos brasileiros: das 115 milhões de toneladas colhidas em 2017, 78% foram para a China. Segundo o IBGE, 70% dos alimentos consumidos no país vêm da agricultura familiar, e a Secretaria Especial de Agricultura Familiar e Desenvolvimento Agrário informa que temos 4,4 milhões de agricultores familiares, responsáveis por 38% da produção agropecuária brasileira e por empregar 74% da força de trabalho. O agronegócio é dominado pela monocultura extensiva de poucos produtos, usa muitas máquinas e insumos químicos, tem foco no mercado externo e recebe crédito maciço do governo, enquanto a agricultura familiar é dedicada à policultura e à produção de alimentos, emprega mais gente e não é tratada com a mesma generosidade pelo Estado.

Quando falamos em fome no mundo, soluções relacionadas a esta segunda forma de produção – como, por exemplo, a permacultura – se mostram não somente mais baratas, como sustentáveis em termos socioambientais, não somente na agricultura, mas também em outras formas de se produzir alimentos. No fundo, é tudo uma questão de definir prioridades – e de não deixar comida no prato.

Saiba mais:

Desmatamento no cerrado é economicamente irracional

Receita para reduzir perda e desperdício de alimentos

Food loss waste protocol (Relatório de perda de alimentos para o lixo)

R$ 7 bilhões em comida jogados no lixo

Lei que proíbe jogar alimentos fora vira exemplo mundial

Pecuária é responsável por 65% do desmatamento da Amazônia

Soja é responsável por apenas 1% do desmatamento na Amazônia

Cultivo de soja em área desmatada da Amazônia cresceu 27%

Avanço da soja em áreas de desmatamento na Amazônia é o maior em cinco anos

Quem produz os alimentos que chegam à mesa do brasileiro?

Animação mostra falhas no manejo da terra (vídeo)

Permacultura, um cultivo sustentável e lucrativo (vídeo)

 

Tolerância zero com a fumaça

Tolerância zero com a fumaça

Mais um exemplo sustentável que vem do frio.
O conselho municipal de Copenhague proibiu novos investimentos em combustíveis fósseis na cidade.
A capital dinamarquesa segue o bom exemplo de Paris, Oslo e Newcastle.
Na prática, a medida proíbe investimentos em empresas que obtêm mais de 5% de seu faturamento usando carvão, petróleo e gás.
A cidade perde dinheiro, mas seus moradores ganham em saúde.
Outras grandes cidades europeias podem seguir este caminho.
E por aqui, abaixo da linha do Equador, quando faremos algo parecido?
Via CicloVivo
Foto: Euroresidentes
Saiba mais: https://ciclovivo.com.br/noticia/copenhague-proibe-investimentos-em-combustiveis-fosseis/