junho 2025 | Metano
O mar não é lugar para falsas soluções. Em meio à emergência climática, cresce a tentativa de apresentar o gás natural liquefeito (GNL) como uma alternativa “limpa” para a transição energética, especialmente no setor naval. Mas essa narrativa ignora uma verdade: o GNL é composto majoritariamente por metano, um gás de efeito estufa extremamente potente, que agrava o aquecimento global e ameaça diretamente os oceanos. No artigo a seguir, publicado no site O Eco, em 13 de junho, a oceanógrafa Elissama Menezes revela por que o GNL é uma aposta cara, poluente, ultrapassada e como o Brasil pode (e deve) fazer diferente.
O falso herói dos mares: por que o GNL ameaça os oceanos e o futuro do Brasil?
Por Elissama Menezes*
É impossível ignorar uma ameaça crescente ao nosso planeta: o avanço na atmosfera do metano (CH4), presente na composição do gás natural liquefeito. Conhecido como GNL, ele é equivocadamente promovido como uma alternativa limpa para a transição energética na indústria marítima, onde é largamente utilizado. Mas a realidade é outra: o metano é um potente gás de efeito estufa (GEE), similar ao dióxido de carbono (CO2). Apesar de permanecer na atmosfera por menos tempo que o CO2, ele absorve 82 vezes mais energia. Ou seja, sua contribuição para o efeito estufa é igualmente impactante e prejudicial ao meio ambiente.
Avaliação recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indica que o caminho para garantir um futuro habitável para o planeta passa pela urgente eliminação dos combustíveis fósseis e por cortes profundos e imediatos nas emissões de gases em geral. Na contramão disso, dados do Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT) apontam que, entre 2016 e 2023, as emissões de metano no transporte marítimo aumentaram 180%, impulsionadas principalmente pelo uso do GNL nas embarcações. Esse incremento de emissões acelera o aquecimento global, intensifica a acidificação dos oceanos, ameaça recifes de corais e compromete cadeias alimentares, afetando a segurança alimentar de milhões de brasileiros. Mas os riscos não param por aí. O GNL avança sobre territórios marcados por alta biodiversidade e povos originários, colocando em xeque importantes patrimônios culturais da humanidade.
Mas, mesmo diante desse cenário, o Brasil parece apostar em um mercado sem futuro. O país tem demonstrado interesse em investir em navios movidos a GNL. Isso vai de encontro aos dados da Agência Internacional de Energia, que estima que, daqui a cinco anos, a demanda por gás natural vai cair drasticamente, projeções alinhadas com o Acordo de Paris. Ou seja, são ativos com décadas de vida útil e sério risco de se tornarem obsoletos em pouquíssimo tempo. Além disso, a partir de 2028, embarcações que usam GNL começarão a pagar taxas sobre emissões de carbono – mais uma prova que essa opção é uma estratégia incompatível com um futuro climático seguro, com a saúde dos oceanos e com os compromissos de redução de emissões para nos garantir um futuro sustentável.
A COP30 em Belém é uma enorme oportunidade para o Brasil mudar de direção e liderar uma transição energética justa e inclusiva, investindo em energias renováveis e em modelos de transporte resiliente. Continuar insistindo em falsas soluções, como o GNL do setor naval, não é definitivamente o melhor caminho.
As águas profundas da Amazônia e do litoral brasileiro não merecem ser palco de mais uma aposta equivocada no atraso. Neste Dia Mundial dos Oceanos – que cobrem 71% da superfície da terra e são vitais para a produção de oxigênio e regulação climática global –, esperamos que o país olhe para o mar não como depósito de metano, mas como fonte de vida e esperança.
Elissama Menezes é oceanógrafa, diretora da Equal Routes e da campanha global “Diga Não ao GNL”.
maio 2025 | Metano
Diante da urgência climática, especialistas destacam que uma das formas mais eficazes de conter o aquecimento global nas próximas décadas continua subestimada: o combate aos poluentes climáticos de vida curta, como o metano e o carbono negro (fuligem). Em artigo publicado no Valor Econômico, no dia 5 de maio, Henrique Bezerra, do Global Methane Hub, aponta o Brasil como peça-chave para liderar uma nova frente de ação climática global, com foco em cortes rápidos de emissões e impactos concretos ainda nesta década. Confira:
Brasil pode liderar a frente esquecida do clima
País pode ajudar a lançar coalizão para ação de curto prazo, centrada no metano, no carbono negro (fuligem) e em outros poluentes climáticos de vida curta
Por Henrique Bezerra
Enquanto o mundo corre para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C e salvar o Acordo de Paris, uma das alavancas mais poderosas para aliviar o clima no curto prazo continua subutilizada: a redução das emissões do metano e de outros poluentes que não o CO₂. Em um momento de complexidade geopolítica e de mudanças nas alianças climáticas, o Brasil tem uma oportunidade única de liderar uma nova diplomacia climática — focada em ações rápidas, justas e de alto impacto.
Com a próxima cúpula do Brics no horizonte e os crescentes apelos por um aumento da ambição climática para manter a meta do Acordo de Paris viva, o Brasil está em uma encruzilhada entre a liderança regional e credibilidade global e um temido fracasso das negociações. O país pode ajudar a lançar uma coalizão de alta ambição para a ação climática de curto prazo, centrada no metano, no carbono negro (fuligem) e em outros poluentes climáticos de vida curta (SLCPs) que estão acelerando o aquecimento global.
Diferente do CO₂, que se acumula por séculos, o metano e a fuligem têm impactos climáticos imediatos. Cortá-los agora pode desacelerar o aquecimento em até 0,5°C antes de 2050. O Brasil conhece bem essa realidade. As queimadas na Amazônia geram fuligem que escurece geleiras nos Andes. O metano do gado, de lixões e de arrozais contribui para o calor extremo, a poluição por ozônio e a perda de produtividade agrícola. Esses não são problemas distantes; estão aqui, agora, e afetam desproporcionalmente o Sul Global.
Ainda assim, a ação sobre os SLCPs continua isolada, sendo muitas vezes vista como um complemento periférico às estratégias de mitigação de dióxido de carbono. Isso precisa mudar. O mundo precisa de uma nova abordagem de mitigação baseada em temperatura — que não meça apenas toneladas evitadas, mas graus prevenidos. É aqui que o Brasil pode liderar.
Imagine uma cúpula liderada pelo Brasil sobre poluentes não CO₂ — reunindo China, União Europeia, Índia, União Africana e países-chave da América Latina. Não como um fórum centrado nos EUA, mas como uma parceria Sul-Norte baseada em equidade e urgência. Imagine os países do Brics endossando uma meta comum de reduzir o metano em 30% e eliminar as principais fontes de fuligem em uma década. Esses passos não apenas resfriariam o planeta, mas também salvariam milhões de vidas por meio da melhora na qualidade do ar.
A liderança do Brasil poderia acelerar:
* Cortes rápidos de metano na agricultura, resíduos e setor de combustíveis fósseis;
* Programas em larga escala de fogões limpos na África, Ásia e América Latina;
* Inovação em tecnologias de refrigeração e substituição de HFCs;
* Cooperação regional para combater queimadas.
O Global Methane Hub e a Clean Air Fund estão prontos para apoiar essa visão — com financiamento, ciência e parcerias que transformam ambição em ação.
À medida que o mundo busca novo impulso climático, o Brasil tem a credibilidade, a capacidade e o imperativo climático para agir. Ao assumir a liderança na mitigação do metano e poluição do ar, o país pode redefinir o que significa ser líder climático: não apenas em gigatoneladas de CO₂, mas em vidas salvas, florestas e geleiras preservadas, colheitas protegidas e graus de aquecimento evitados.
O próximo capítulo da ação climática precisa ser mais rápido, mais justo e mais focado. O Brasil pode escrevê-lo.
*Henrique Bezerra é líder regional para a América Latina no Global Methane Hub.
Link: https://valor.globo.com/opiniao/coluna/brasil-pode-liderar-a-frente-esquecida-do-clima.ghtml
maio 2025 | Metano
Durante a Semana da Compostagem, o ator e ativista Mateus Solano compartilhou com a gente que faz compostagem em casa e reforçou a importância dessa prática no dia a dia.
Esse recado é urgente: no Brasil, mais de 50% do lixo gerado é orgânico — cascas de frutas, restos de comida, borra de café, entre outros materiais que poderiam estar voltando pra terra em forma de adubo, mas acabam nos aterros.
E aí mora o problema: quando se decompõem nesses locais sem oxigênio, os resíduos orgânicos liberam metano (CH₄), um gás de efeito estufa até 28 vezes mais potente que o CO₂ para o aquecimento global.
Ou seja, compostar é um ato de cuidado com o planeta e uma das formas mais baratas e eficazes de combater a crise climática.
Você pode começar em casa, com uma composteira doméstica ou comunitária. Também vale levar seus resíduos até pontos de coleta que já fazem esse trabalho.
Mateus já começou. E você? Vamos juntos espalhar essa ideia e transformar resíduos em vida!
https://www.instagram.com/p/DJZ0Ehfx4Fk/
dezembro 2016 | Belo Monte
A matéria orgânica submersa do reservatório apodrece e produz metano, um dos gases do efeito estufa. Saiba como e porque isso acontece.
O documentário “Belo Monte: Depois da Inundação”, de Todd Southgate, responde às indagações feitas em 2011 pelo Movimento Gota D’Água.
março 2017 | Mudanças Climáticas
A maior reserva submarina de metano está no Oceano Pacífico e se estende da costa da América Central até o Havaí. Este gás é 25 vezes mais potente para o aquecimento global que o CO2.
Segundo o grupo de cientistas responsável pela descoberta, da Universidade Queen Mary, em Londres, a camada rica em metano só viria à superfície sob condições de extrema agitação do mar.
Dragagem, pesca de arrasto e instalação de plataformas de petróleo são algumas atividades humanas que se qualificam a tal dano.
Melhor repensar como tratamos os oceanos.
Via: O Globo
Foto: Pacific Stock/Design Pics/Superstock
Saiba mais: https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/cientistas-descobrem-maior-pool-subaquatico-de-gas-de-efeito-estufa-20991164