Tapajós: desastre ambiental e social
Ribeirinhos e Munduruku se unem na luta contra a construção de hidrelétricas no Rio Tapajós.
Imagens: Greenpeace Brasil
Edição: Uma Gota no Oceano
Ribeirinhos e Munduruku se unem na luta contra a construção de hidrelétricas no Rio Tapajós.
Imagens: Greenpeace Brasil
Edição: Uma Gota no Oceano
“O belo monstro rouba as terras dos seus filhos/Devora as matas e seca os rios”. O samba-enredo da escola carioca Imperatriz Leopoldinense para o Carnaval deste ano se presta a trilha sonora de filme-catástrofe. Filme, não. Série. Porque a segunda parte pode estrear a qualquer momento. O belo monstro a que a letra se refere é a hidrelétrica de Belo Monte. Mas outro monstrengo feioso, que só traz beleza em seu nome, ameaça o Rio Xingu: Belo Sun, empresa canadense de mineração que pretende extrair 108 toneladas de ouro da região da Volta Grande em 17 anos. E “Belo monstro II” pode se revelar no final uma refilmagem de outra monstruosidade: a tragédia de Mariana.
No início deste mês, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará autorizou a instalação do empreendimento. A Funai anunciou que recorreria da decisão e o Conselho Nacional de Direitos Humanos pediu a suspensão do projeto. Mas essas iniciativas certamente não irão fazer frente à sua voracidade.
Se quisermos impedir mais uma tragédia anunciada, precisamos estar juntos e nos armar – e informação é uma das melhores armas contra monstros como Belo Monte, Mariana e Belo Sun.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), elaborou uma lista com 12 motivos pelos quais Belo Sun não deve nunca sair do papel. Leia aqui: https://www.brasildefato.com.br/2017/02/09/12-motivos-para-barrar-a-instalacao-de-belo-sun-no-rio-xingu/
Não adiantaram o parecer técnico de reprovação da Funai ou as ações do Ministério Público Federal e da Defensoria Pública do Pará. O governo do Estado liberou ontem a licença de instalação do projeto de mineração de ouro da Belo Sun na Volta Grande do Xingu, o novo monstro que será construído próximo à barragem de Belo Monte.
É perigo demais para tamanha vista grossa sobre o impacto do empreendimento para indígenas, garimpeiros e famílias agroextrativistas da região.
E a história de Belo Monte não é nada digna de uma continuação.
Via: Estadão
Foto: Lalo de Almeida / Folha
Há mais de seis anos a gente vem batendo nessa tecla: a corrupção é insustentável. Em 15 de novembro de 2011, foi lançado um vídeo-manifesto, É a Gota D’Água + 10, questionando a maior obra do Programa de Aceleramento do Crescimento (PAC) do governo brasileiro: a Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. O monstrengo já custou mais de R$ 30 bilhões e sempre teve sua eficiência e os seus relatórios de impactos socioambientais questionados por especialistas. O Xingu é um rio de grandes variações e durante oito meses por ano praticamente seca. Ele também guarda as maiores diversidades biológica e social da Amazônia. Em uma semana, a campanha reuniu mais de um milhão de assinaturas e entrou para história da Internet. Fomos atacados por todos os lados, acusados de querermos brecar o desenvolvimento do país. Mas o tempo, senhor da razão, mostrou que estávamos certos: a conta dos prejuízos causados pela usina ainda não fecharam.
Hoje (9/3), a pedido do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal no Paraná expediu mandados de busca e apreensão em Curitiba e São Paulo, com o objetivo de aprofundar as investigações sobre o pagamento de propina na obra. Batizada Buona Sorte pela Polícia Federal, a operação faz parte da 49ª (não perca as contas) fase da Lava-Jato. A construção de Belo Monte começou a ser planejada ainda nos anos 1970, durante a ditadura militar. O PT o tirou do papel a fórceps, graças a um dispositivo muito usado pelos generais, a “suspensão de segurança”, o que levou o Brasil a ser denunciado na Organização dos Estados Americanos (OEA). E o principal alvo da Buona Sorte, coincidentemente, é outro personagem daquela época sombria, o ex-ministro Antônio Delfim Netto, que teria embolsado R$ 15 milhões. Belo Monte parece ter sido construída para gerar corrupção, e não energia.
A operação se baseia em fortes indícios de que o consórcio Norte Energia foi indevidamente favorecido para vencer o leilão destinado à concessão da usina. As provas recolhidas indicam que o Delfim recebeu 10% do percentual pago pelas construtoras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e J. Malucelli, enquanto o restante da propina foi dividido entre o PMDB e o PT, ficando 45% para cada partido. Para a procuradora da República Jerusa Burmann Viecili, integrante da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, “as provas indicam que o complexo esquema criminoso verificado no âmbito da Petrobras se expandiu pelo país e alcançou também a Eletrobrás, em especial nos negócios relativos à concessão e construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. Essa obra, além de ter ocasionado graves impactos sociais e ambientais na região que já haviam sido demonstrados pelo Ministério Público Federal, também redundou em elevados prejuízos econômicos para toda sociedade”.
Que belo papelão. Nossos rios são nossa maior riqueza: em nome de que permitimos absurdos desse tipo? De 18 a 23 deste mês, acontece em Brasília o 8º Fórum Mundial da Água. Será a primeira vez que o evento será realizados num país do Hemisfério Sul. Paralelamente, a mesma cidade receberá o Fórum Alternativo Mundial da Água 2018 (Fama). Vamos aproveitar a ocasião para conversarmos mais sobre isso? Uma Gota no Oceano e entidades parceiras estão lançando, junto com o diretor Luiz Fernando Carvalho, a campanha Em Nome de Quê? pensando nisso. Em breve a gente dá mais detalhes.
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A era das grandes hidrelétricas pode estar chegando ao fim. E não é por um surto súbito de bom senso, mas por… falta d’água! Os reservatórios das grandes usinas mundo afora estão secando e a culpa é de quem? Sim, adivinharam: das mudanças climáticas.
As hidrelétricas são responsáveis por cerca de 70% da produção de energia renovável e por mais de 15% do total da eletricidade gerada no mundo. Mas a fonte está secando, e não foi por falta de aviso.
Via DW Brasil
Foto: Justin Sullivan/Getty Images