Era nuclear, será solar. Em 1986, um reator da usina de Chernobyl, na Ucrânia, explodiu e espalhou radiação por três quartos da Europa, tornando uma área de 2 mil km² inabitável pelos próximos 24 mil anos. Agora, depois que um novo sarcófago de concreto foi feito para isolar a estrutura radioativa, 3,8 mil painéis solares estão sendo instalados por lá.
Em breve, eles gerarão 1 megawatt que, aproveitando a rede de distribuição original, serão transmitidos para longe dali. É quase uma ressurreição energética – e limpa. E também resolve outro dilema: onde construir grandes usinas solares, que ocupam tanto espaço? Chernobyl aponta outra solução.
Não tem mais desculpa: já é mais barato produzir eletricidade usando o sol e o vento do que combustíveis fósseis. A conclusão é de um novo estudo publicado pela ONG inglesa Carbon Tracker Initiative. O relatório “Fim da ocupação do carvão e do gás?” compara os custos de geração de energia de quatro usinas recém construídas: de carvão, gás, eólica e solar. Os cálculos do estudo levam em consideração as determinações do Acordo de Paris para limitar o aumento da temperatura média global em menos de 2º C. E aí, vamos mudar logo essa matriz energética? Via CicloVivo Foto: Energy 3.0 Saiba mais: https://ciclovivo.com.br/noticia/energias-renovaveis-ja-sao-mais-baratas-do-que-combustiveis-fosseis/
Partiu o comboio movido a energia emergente. A locomotiva é a China, mas os países em desenvolvimento em geral estão gerando cada vez mais eletricidade a partir do sol e do vento. Em 2016, foram mais 34 GW de eletricidade por usinas solares, em 71 nações emergentes. A capacidade de geração de energia solar no mundo aumentou 54% em um ano e mais do que triplicou em três anos. Em Cabo Verde se fala a mesma língua daqui. Mas enquanto lá se investe pesado no vento, para o país ser movido 100% a energia limpa e renovável até 2025, o Brasil escorrega no português e subsidia a indústria do petróleo, com a aprovação da Medida Provisória 795/2017 – a chamada MP do Trilhão. E isso contra a vontade da população: em recente pesquisa, 90% dos entrevistados se disseram favoráveis a pisar no freio dos combustíveis fósseis para ajudar a combater as mudanças climáticas.
Os cabo-verdianos começam a pôr em prática as metas que estabeleceram quando assinaram o Acordo de Paris, enquanto já começamos a descumprir as nossas. Mesmo sendo um dos menores países do mundo, Cabo Verde consome muita energia. Por isso, o programa também inclui medidas para evitar o desperdício. Venta muito no ensolarado arquipélago africano, que é um dos mais prejudicados pelas mudanças no clima. Combustível limpo não lhe falta.
Nem ao Brasil, que no entanto prefere continuar investindo em combustíveis fósseis. Até foram anunciados novos leilões para o setor para abril do ano que vem, mas este ano o governo rescindiu contratos para a construção de 16 parques eólicos e nove solares. Isso vai representar 557 MW a menos de energia limpa. O governo falou em economia, mas manteve contratos para a construção de novas termelétricas, como a de Peruíbe, em São Paulo. Pior que não pegamos a maria-fumaça por engano.
O consumo de carvão no mundo vem caindo há dois anos, principalmente por causa da China, dos Estados Unidos – apesar das bravatas do presidente Trump – e da Europa. E os chineses sequer precisaram desacelerar seu desenvolvimento para tomar este outro rumo: o país deve crescer mais este ano do que havia previsto o Banco Mundial. Em tese o Brasil não está tão mal: é um dos 14 países (entre eles Chile, Jordânia, México e Paquistão) que dobraram sua capacidade fotovoltaica instalada em 2016. Mas além de ainda estar muito aquém de sua capacidade, o problema, tanto no caso das usinas solares como nos parques eólicos, é a falta de linhas de transmissão. Fizeram o trem, mas esqueceram dos trilhos.
Nos trilhos da energia limpa. A Austrália tem o primeiro trem movido a sol do mundo. E ele é bonitão. Montado sobre uma velha carroceria abandonada, ele ganhou painéis solares no teto e esse ar retrô.
Por enquanto, o trem solar está operando em caráter experimental, num trecho de três quilômetros de ferrovia recuperado na cidade de Byron Bay. Ele pode transportar até 100 passageiros. Não é muito, é verdade, mas aponta um caminho promissor.
Que fique claro: essa ilustração é apenas uma projeção do futuro, mas o Sahara Forest Project já começa a pintar de verde pedaços de deserto no Qatar e na Jordânia, em duas unidades experimentais. A ideia é simples: usar luz solar e a água salgada (do mar ou de aquíferos salinos) para produzir alimento, água potável e eletricidade.
Para plantar no deserto é preciso driblar dois grandes adversários: a baixa umidade e a grande variação térmica – dias muito quentes e noites muito frias. O mesmo processo usado para resfriar as estufas dessaliniza a água usada e produz energia. E a longo prazo, transformar áreas desérticas em plantações e florestas também ajudará a combater as mudanças climáticas. Quanto mais verde o futuro, melhor.