A eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA gera apreensão quanto ao futuro das ações climáticas americanas.
Mas a agenda global do clima não depende mais apenas de um país, como evidenciam as 102 ratificações que o Acordo de Paris já tem.
“Uma economia inteira baseada em energias renováveis está em movimento no mundo, e representa uma fatia crescente do PIB e da geração de empregos nos próprios EUA. As convicções pessoais de Trump terão, em alguma medida, de se enquadrar a essa realidade”, afirma Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
Descobriram água em Marte, mas os americanos mantêm os pés na Terra: estão mais preocupados com a água daqui. Para eles, estudar as mudanças climáticas deveriam ser a prioridade da Nasa.
Em pesquisa da Bloomberg Businessweek, 43% dos entrevistados disse que monitorar o clima do planeta deve ser a principal atividade da agência espacial. Trump quer mandar astronautas a Marte, mas só 8% concordam com o presidente. Nosso planeta realmente precisa de toda a atenção agora.
Na semana que passou comemoramos O Dia Internacional do Meio Ambiente e também o Dia Mundial dos Oceanos. Ficamos cientes de dados como as 8 milhões de toneladas de plástico que são descartadas no mar todos os anos. E vimos também que, se até 2050 nada for feito com relação isso, teremos mais plástico do que peixes nos mares.
Na última semana, o presidente americano Donald Trump deixou o Acordo de Paris, o que pode atrapalhar o objetivo do tratado e não reduzir as mudanças climáticas como se esperava. Um dos reflexos deste fenômeno é o aumento da temperatura no planeta, que coloca em risco principalmente a Antártica e o Ártico, causando, entre outros problemas, o derretimento de geleiras. Isso pode causar a elevação do nível dos oceanos e fazer desaparecer lugares como as Ilhas Maldivas, onde o presidente fez um apelo para que Trump não abrisse mão do acordo.
Mas voltando ao Ártico. As consequências das mudanças climáticas por lá são mais fortes e muitas vezes sentidas primeiro do que em outros locais do planeta.
Recentemente, o banco mundial de sementes, criado pela Noruega e que fica no extremo norte no país, na região do Ártico, foi parcialmente inundado por conta do derretimento do permafrost (o solo da região ártica, uma camada de gelo que, ao menos em tese, não deveria derreter). Felizmente, nada se perdeu e o governo norueguês já divulgou um plano para conter possíveis futuros acidentes causados principalmente pelas mudanças climáticas na região.
Estudos mostram que a diminuição da cobertura de gelo no Ártico, foi de 74% entre 2009 e 2016, como divulgou o secretário-geral da Organização Mundial Meteorológica, Petteri Taalas. A área congelada é a menor já registrada por satélite, em quase quatro décadas, em pleno inverno na região, segundo a NASA.
Abaixo, o vídeo feito pela própria NASA mostrando as mudanças na formação de gelo na região do Ártico:
A perda de cobertura de gelo está afetando o ecossistema na região, como o tempo de florescimento dos fitoplânctons, os organismos microscópicos que estão na base da cadeia alimentar marinha. Além disso, os ursos polares, morsas, baleias e outros animais dependem do gelo marinho para sobreviver.
Quem está se beneficiando por esse degelo é o homem, o principal causador dele. Com a diminuição da área congelada, aumenta a invasão humana, expandindo atividades como a pesca, o turismo, o transporte a até a exploração de petróleo na região. Japão, China e Coreia do Sul anunciaram que se uniram para um estudo científico conjunto no oceano Ártico para preparar o terreno para a abertura de novas rotas de transporte e exploração de recursos.
No norte do Canadá, o aumento das temperaturas está fazendo com que as estradas de gelo formadas no longo e denso inverno da região se formem mais tarde que o habitual e derretam antes do esperado. Essas estradas são importantes para o transporte de combustível, madeira, diamantes e carcaças de alce para as minas e comunidades remotas da região.
As pessoas que vivem por lá esperam ansiosamente pelo inverno para que as estradas de gelo, que são a sua única garantia de sobrevivência, deem acesso às comunidades isoladas. Esta crise está se tornando uma questão de vida ou morte. Algumas dessas comunidades quase ficaram sem óleo diesel para manter as luzes acesas porque as estradas de gelo foram abertas semanas mais tarde.
Outro dado alarmante é que o derretimento o solo do ártico está liberando antigos vírus e bactérias que, depois de ficarem tanto tempo “dormentes”, voltam à vida e podem acabar causado grandes epidemias.
Conforme a Terra vai aquecendo, mais camadas do permafrost vão derretendo. Normalmente. cerca de 50 cm das camadas mais superficiais desse solo derretem no verão. Mas com o aquecimento global, camadas mais profundas e antigas têm derretido também, liberando esses vírus e bactérias.
E não apenas esses microrganismos são uma ameaça. Conforme a Terra vai aquecendo, os países do Norte vão se tornando mais suscetíveis a epidemias “do Sul”, como malária, cólera, dengue, que são doenças de temperaturas mais quentes. A elevação de temperatura deixa o clima mais propício para a reprodução de mosquitos vetores dessas doenças, como o tão conhecido Aedes aegypti, responsável por transmitir além da dengue, a febre amarela, Chikungunya e Zika.
O clima esquentou entre Donald Trump e o resto do mundo. Bastou o presidente americano, com maior índice de rejeição dos últimos 40 anos, retirar o país do Acordo de Paris para mudanças climáticas, que diversos países emitiram nota de repúdio e preocupação com sua atitude. Durante o anúncio, Trump disse que vai renegociar a entrada dos EUA no tratado, desde que haja mudanças nas regras. Para Alemanha, Itália e França não haverá renegociação.
Ao menos quatro estados, 70 grandes cidades e multinacionais, inclusive petroleiras americanas, já confirmaram que irão manter os acordos firmados em Paris.
A atitude do presidente desagradou não só outras nações como próprios americanos, incluindo sua filha Ivanka, que foi contra a atitude do pai, que coloca em xeque a liderança mundial americana, e até mesmo sua promessa de “fazer os EUA grandes novamente”.
É hora de virar o jogo! Segundo o Instituto Ipsos, 80% dos brasileiros estão pessimistas em relação ao futuro ambiental da Terra. A mesma pesquisa aponta que 82% de nós reconhecem que a atividade humana é a principal causa das mudanças climáticas. Ou seja: a gente tem consciência de que a situação é grave e que a culpa é nossa. E essa percepção é geral, pois as cerca de 18 mil pessoas de 23 países entrevistadas pelo Ipsos chegaram às mesmas conclusões.
Se reconhecemos que o problema existe e que somos a sua causa, que tal passarmos agora para a terceira fase? Está em nossas mãos salvar a natureza. Então, o que estamos esperando? Vamos à ação!
Há dois anos, os países do G7 haviam se comprometido, em reunião na Alemanha, a não usar mais combustíveis fósseis até o fim do século. Além disso, o ex-presidente americano Barack Obama anunciou o Plano de Energia Limpa, prevendo redução de 32% das emissões das usinas termelétricas até 2030. Porém, o atual presidente dos EUA, Donald Trump, tem se empenhado em demolir o legado do antecessor. No último encontro do grupo, na semana passada, na Sicília, ele mais uma vez adiou sua decisão de seu país permanecer ou não no Acordo de Paris. Entretanto, os líderes de Alemanha, Reino Unido, Itália, Canadá, Japão e França deram um bom exemplo de ação ao enquadrá-lo, anunciando que vão continuar a seguir suas agendas ambientais, independentemente da resposta americana.
Enquanto isso, em Brasília, governo e bancada ruralista se aproveitam do caos reinante para aprovar a toque de caixa medidas que atingem em cheio a saúde do meio ambiente e que podem comprometer definitivamente o nosso futuro, além de impedir que o país cumpra as metas do Acordo de Paris. Tramitam no Congresso Nacional projetos que reduzem áreas de florestas, facilitam a venda de terras a estrangeiros e afrouxam as regras de licenciamento ambiental. Além disso, voltou à pauta este ano o novo código de mineração, que estava engavetado desde 2015 e que simplesmente ignora aspectos sociais e ambientais que podem ser afetados pela atividade. Não podemos ficar de braços cruzados!