Esquadrilha do agrotóxico
Ninguém segura a nossa esquadrilha de fumaça. O solo é fértil, mas combustível é farto, fornecido por uma generosa legislação sobre o uso de agrotóxicos e fertilizantes. O nível máximo de contaminação da água permitido no Brasil é 5 mil vezes maior do que o da União Europeia; no caso do feijão nosso de cada dia, a lei brasileira permite o uso de quantidades 400 vezes maiores. E dos 504 pesticidas e herbicidas de uso liberado no país, 30% são proibidos por lá. De embrulhar o estômago.
É o que aponta o recém-lançado estudo comparativo “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”, da pesquisadora Larissa Mies Bombardi, da USP. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo, e mais de dois terços dos alimentos produzidos aqui são contaminados por esses agentes. Vão diariamente para nossos pratos diversos ingredientes ativos que já são proibidos em outras partes do mundo como EUA, China e Canadá, além da já citada União Europeia. Mas será que precisa disso tudo, mesmo?
As monoculturas, como a da soja, concentram 80% dos venenos agrícolas por aqui e são cada vez mais dependentes desses insumos. Somente entre 2000 e 2012, a venda de agrotóxicos no país cresceu 288%, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agropecuária (Sindag). Um negócio e tanto, o que explica o grande interesse de grandes empresas multinacionais em nossos campos e, também, em nossos políticos. Em meados deste mês de novembro, por exemplo, um grupo de parlamentares da chamada Bancada Ruralista visitou na Suíça instalações da multinacional Syngeta. A viagem, bancada pela Câmara de Comércio Suíço-Brasileira, aconteceu justamente depois da Anvisa proibir o uso e a comercialização do paraquate, agrotóxico proibido em mais de 40 países, incluindo toda a União Europeia e na própria Suíça, país onde é fabricado – mas que coincidência! – pela Syngeta.
Os efeitos do lobby são evidentes no Congresso Nacional, onde projetos de lei que liberalizam ainda mais o emprego de agrotóxicos no Brasil se multiplicam como erva daninha. O mais famoso deles, apelidado de Pacote do Veneno, contém diversos projetos apensados, alguns já aprovados no Senado. Entre os principais, o PL 6.299/2002, semeado pelo então senador e atual ministro da Agricultura Blairo Maggi (PP-MT). Pouco a pouco, em “doses homeopáticas”, produtos vetados lá fora – como o benzoato de emamectina, que passou a ser permitido aqui recentemente – vem sendo liberados aqui.
Embora cinco mil vezes mais controlado, o uso de agrotóxicos também gera muita polêmica na União Europeia. A mais recente acontece por conta da renovação da permissão para uso do herbicida glifosato por mais cinco anos. Numa prática semelhante à empregada no século XX pela indústria do tabaco, por décadas, a indústria química vem fazendo um lobby pesado. Entre suas armas mais usadas estão pesquisas científicas encomendadas e divulgadas com o intuito de confrontar avaliações acadêmicas e inocentar seus produtos. O resultado desse verdadeiro bombardeio é que a opinião pública passou a refletir, no mínimo, uma grande desconfiança em relação a todas as pesquisas – oficiais ou independentes. Ou seja: alienar para conquistar.
Segundo pesquisa do Ibope, 81% dos brasileiros considera que a quantidade de agrotóxicos aplicada nas lavouras é “alta” ou “muito alta”. Mas como podemos nos defender desse ataque? De preferência, usando as armas recomendadas pela democracia. Nossa trincheira mais segura é o Projeto de Lei 6670/2016, que institui a Política Nacional de Redução de Agrotóxicos (PNaRA). Que tal fazer pressão para que seja aprovada? Um bom ponto de partida pode ser participando da campanha #ChegaDeAgrotóxicos. Assinando a petição, você também ajuda a barrar o Pacote do Veneno.
Assine a petição.
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