Durante o Fórum Nacional das Mulheres Indígenas, Sonia Bone Guajajara mandou uma daquelas “letras” que só ela sabe. “A luta indígena deixou de ser apenas uma responsabilidade nossa. A garantia dos territórios é o que assegura a vida de todos”, disse a coordenadora executiva da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil).
Não à toa, o governo quer permitir a mineração em terras indígenas e contesta dados do Inpe, órgão que monitora a floresta desde os anos 1970. O Executivo ainda desmonta todas as instituições e políticas sociais que dizem respeito aos indígenas.
Até quando vamos deixar isso acontecer? A luta dos povos indígenas é de todos nós. É uma luta pelo planeta, pelo nosso futuro. “Em nossa humanidade, somos todos um”.
“Não vamos aceitar o desmonte da saúde indígena. Não vamos aceitar a municipalização da saúde indígena. Nós, mulheres, temos a obrigação de não aceitar nenhum tipo de imposição que venha a atingir nossas vidas.”
Essas são as palavras de Sônia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Ao lado de outras mulheres indígenas, ela ocupou pacificamente, na manhã desta segunda (12), o quarto andar do prédio do Ministério da Saúde. O ato em defesa do subsistema de atenção à saúde indígena pediu a liberdade de escolha pelo parto natural e também reclamou sobre a imposição da cesariana.
A manifestação teve danças e cânticos tradicionais dos mais de 100 povos indígenas que estão em Brasília para a Primeira Marcha das Mulheres Indígenas. O tema da marcha, que tem horário marcado para as 7h desta terça, é Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito.
Muito pertinente. Afinal de contas, os povos indígenas são os guardiões da floresta, parte indissociável da terra onde nasceram e vivem. Não à toa, de acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, ninguém entende melhor o valor das florestas do que os indígenas. Mas é claro. A floresta é o corpo e o espírito deles.
Mais de 2 mil pessoas participaram da Primeira Marcha das Mulheres Indígenas, em Brasília. Sob o lema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, elas caminharam pela Esplanada dos Ministérios. A manifestação foi colorida, pacífica e alegre. Mães, filhas e avós dançavam e cantavam por respeito. Ao fim da caminhada, que teve como ponto final o gramado do Congresso Nacional, cem lideranças indígenas femininas foram destacadas para comparecer à sessão da Câmara dos Deputados.
Sonia Guajajara, coordenadora executiva da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), foi convidada a discursar no púlpito: “Viemos em marcha, de todos os estados. E estamos nessa terra como povos originários para sermos respeitadas”. Mas nossas bravas guerreiras não lutam apenas para que seus direitos sejam reconhecidos, mas também por um futuro melhor para todos. Elas ainda vão se juntar às manifestações pela educação na cidade e amanhã participam da Marcha das Margaridas. É uma história escrita em urucum e jenipapo.
Luta é substantivo feminino. De uma ocupação numa floresta na Alemanha, Greta Thunberg (agachada no meio) manda saudações, via Twitter, para a Marcha das Mulheres Indígenas. A menina sueca é a criadora do Fridays For Future, movimento que vem incentivando jovens do mundo inteiro a cobrarem medidas mais efetivas dos governos de seus países contra o avanço das mudanças climáticas.
Do lado de cá do Atlântico, em Brasília, nossas guerreiras estão lutando pelo direito à terra, sob o lema “Território: nosso corpo, nosso espírito”. Amanhã elas saem em passeata pela cidade. Greta sabe que os povos indígenas são os mais habilitados para proteger a floresta – e que o verde é a barreira mais eficaz contra o desequilíbrio climático.