As emissões de gases do efeito estufa bateram o recorde mundial no ano passado, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), mas diminuíram no Brasil. Nem por isso o país está de parabéns. De acordo com os dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), a redução foi de 2,3% em 2017 e está diretamente ligada à diminuição de 12% no desmatamento da Amazônia.
O problema é que o Brasil vem há anos se mantendo numa média alta, com pequenas oscilações. E o maior emissor continua sendo a agropecuária, também a maior causa do desmatamento. É preciso investir em modelos de produção de alimentos mais eficientes. Os cientistas da OMM alertam que é urgente reduzir emissões antes que as mudanças climáticas tragam consequências irreversíveis.
Arredondou pra mais. O governo anunciou que o país já teria cumprido sua meta de redução de emissões para 2020. Essa conta leva a diminuição do desmatamento entre 2016 e 2017. Segundo especialistas da área, esta seria uma projeção bastante improvável, superfaturada.
Um exemplo: o desmatamento da Amazônia ainda está em 6.957 km², ou 78% maior do que a meta assumida. Para cumprir o estabelecido, teríamos quase que voltar no tempo. Se bem que retrocesso na área ambiental é o que não falta.
Daqui de baixo mal se vê, mas a aviação comercial está causando um furdunço no clima. E não só pelas emissões de CO2, como também por causa do óxido de nitrogênio, do vapor d’água, das trilhas de condensação e das alterações das nuvens, que estão ajudando a fazer subir a temperatura.
Por enquanto, o seu impacto no aquecimento global aparentemente não é tão grande: 5%. Mas se levarmos em conta que apenas 3% da população mundial voou em 2017, o número é desproporcional. Uma única pessoa fazendo viagem de ida e volta entre a Alemanha e o Caribe produz a mesma mesma quantidade de CO2 que 80 moradores da Tanzânia num ano inteiro. Valei-nos, Santos Dumont!
Batemos mais um recorde: a concentração de CO₂ na atmosfera atingiu a 410 partes por milhão em abril. Nos 250 mil anos de existência do Homo sapiens, nunca havíamos chegado perto desse valor. Há 60 anos, quando começaram as medições, estávamos em 315 ppm.
Segundo as evidências, a última vez o carbono bateu os 400 ppm foi há 3,5 milhões de anos. A temperatura era 3º C mais alta do que hoje e o nível do mar, 20 metros mais elevado. Isso derreteu geleiras, além de provocar eventos climáticos extremos e a extinção de espécies. O que aconteceu naquela época por causas naturais, hoje se deve ao modelo de desenvolvimento que adotamos depois da Revolução Industrial. Em nome de que arriscamos causar a nossa própria extinção?