Demarcar é preciso

Demarcar é preciso

Os 50 anos da Fundação Nacional do Índio (Funai), completados no último 5 de dezembro, passaram em branco. E não nos parece que por acaso: se de um lado, o daqueles que a instituição deveria representar, não há razões para comemorar, o outro, que deveria cuidar do seu bom funcionamento, parece determinado a fazê-lo minguar até cair no esquecimento. O orçamento destinado ao órgão pelo governo federal encolheu 70% na última década, e o seu atual presidente, Franklimberg Ribeiro Freitas, ainda sequer foi oficialmente efetivado. Não sobrou nem para um bolinho, que dirá para dar conta de seu trabalho mais importante no momento, que é demarcar Terras Indígenas (TIs).

Esta semana se celebra o Dia do Índio e também não há motivo para festa; mas disposição para a luta não pode faltar, já que outra ameaça paira sobre os direitos constitucionais dos povos tradicionais. Esta vem a reboque do Projeto de Lei (PL) que flexibiliza as regras do licenciamento ambiental, que enfraquece ainda mais a Funai e pode afetar 227 processos de demarcação que estão hoje em andamento. Semana que vem tem Acampamento Terra Livre, em Brasília. Hora de afiar as ideias e se preparar para o bom combate.

Em seu site oficial, a própria Funai informa que o seu orçamento atual representa apenas 14% do total de suas despesas mínimas. Respirando por aparelhos, o órgão perdeu as condições mínimas para dar sequência às suas atividades institucionais básicas – entre elas, a criação de Grupos de Trabalhos (GTs) para identificação e delimitação de TIs, pagar indenizações a ex-ocupantes de terras demarcadas e a proteção das mesmas contra invasores.

O processo de licenciamento ambiental do país está em vias de passar por mudanças profundas, com o avanço no Congresso do PL encampado pela bancada ruralista. A nova versão do texto que deve ser levada à votação no plenário da Câmara nos próximos dias, traz pelo menos três propostas polêmicas: impõe restrições a demarcações de TIs, abre espaço para que o empreendedor questione ações de compensação ambiental e libera Estados e municípios para criarem as próprias regras de licenciamento.

A proposta prevê que a Funai seja acionada em processos de licenciamento ambiental apenas em casos em que a TI já tenha sido efetivamente homologada; ou seja, ficam de fora todos os demais casos em que os processos de demarcação estejam em andamento. Na prática, o projeto determina que, se a TI não foi homologada, ela não existe e, portanto, qualquer obra pode ser executada no local. Hoje isso é proibido.

Para encarar esses desafios, lideranças indígenas de todo o país participam, de 23 a 27 de abril, do ATL 2018. É a 15ª edição do evento, que tem como maior objetivo pressionar o governo para a manutenção e efetivação de seus direitos, em respeito à Constituição e a leis internacionais como a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Faça a sua doação e apoie o evento.

Saiba mais:

Projeto prevê mudança em lei ambiental

Aprovação de nova lei afetaria 227 casos de homologação de terras indígenas

 

Demarcar também é pacificar

Demarcar também é pacificar

A urgência da demarcação de Terras Indígenas no Brasil ficou ainda mais evidente depois do ataque no domingo ao povo Gamela, no município de Viena, no Maranhão. Os povos indígenas cobram da Funai a retomada dos processos de demarcação de suas terras, a forma mais eficaz de garantir a dignidade e a paz no campo. Pelo direito de os povos indígenas existirem, assine a nossa petição.

Presidente Temer e ministro Serraglio: respeitem os direitos indígenas!

Excelentíssimos Senhores
Michel Temer, Presidente da República
Osmar Serraglio, ministro da Justiça

Vimos manifestar a nossa preocupação e indignação com os ataques sistemáticos contra os direitos dos povos indígenas do Brasil, consagrados na Constituição Federal de 1988. Em particular, é absolutamente inaceitável, no Estado Democrático de Direito, a utilização de manobras para evitar o reconhecimento dos direitos territoriais indígenas, a exemplo da PEC 215/2000, da qual o atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio, foi relator na Câmara dos Deputados, e da Portaria nº 80 do Ministério da Justiça.

Respeitar os direitos indígenas é essencial para garantir a sobrevivência física e cultural destes povos, frear o desmatamento acelerado e garantir a integridade de ecossistemas e biomas que são essenciais para a qualidade de vida de todos os brasileiros.

Os territórios indígenas desempenham um papel fundamental para diminuir os efeitos de um planeta cada vez mais quente e garantir um clima ameno para todos. Respeitar os direitos territoriais dos povos indígenas ajuda a garantir a estabilidade climática do planeta e evita impactos desastrosos, enquanto promove a paz, o crescimento econômico, a proteção da biodiversidade e a dignidade humana.

Como cidadãos que se preocupam com o planeta e o nosso futuro comum neste lugar, pedimos que os Exmos. Senhores:

1) Respeitem os direitos territoriais indígenas consagrados na Constituição Federal de 1988

2) Garantam a retomada dos processos demarcatórios de terras indígenas, eliminando quaisquer práticas de obstrucionismo;

3) Revertam o atual processo de desestruturação da FUNAI, assegurando quadros de pessoal e recursos orçamentários essenciais para o cumprimento de sua missão.

Assine aqui: https://peticao.umagotanooceano.org/l/FNmAe2ABF1132

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