Verdadeiro como uma nota de R$ 3,00

setembro 2017

O presidente Temer foi à ONU com um discurso tão verdadeiro quanto uma nota de R$ 3,00 (três reais): o desmatamento na Amazônia tinha caído mais de 20%. Foi desmentido por sua própria fonte, o Imazon. “Estes não são dados oficiais. Os dados do governo ainda não foram divulgados e parece que o presidente está comparando dados oficiais do ano passado com os nossos, de agora, sendo que as metodologias são totalmente diferentes”, disse o engenheiro florestal Paulo Barreto, pesquisador associado do instituto. Como se diz hoje em dia, o governo aderiu ao uso da pós-verdade – a popular cascata.

Não é a primeira vez que ele dá uma de joão-sem-braço: os vetos às MP 756 e 758, que reduziam as áreas de reservas de floresta, como a de Jamanxim, foram somente para norueguês ver. O anúncio foi feito às vésperas da viagem do presidente à Noruega e o ministro de Clima e Meio Ambiente do país, Vidar Helgesen, havia feito críticas contundentes à política ambiental brasileira. De nada adiantou: a Noruega cortou pela metade os R$ 400 milhões do Fundo Amazônia, destinado à preservar a floresta.

Tudo isso em retribuição aos votos da bancada ruralista no Congresso Nacional, que, afinal, tem garantiu a sua promoção à Presidência e tem garantido a sua permanência no Palácio do Planalto. Para o agronegócio é tudo à vera: assim que assumiu, Temer recebeu uma pauta de reivindicações dos ruralistas. Dos 17 pontos que consideraram prioritários, 13 já foram atendidos. E muitas vezes usando como argumento a lorota-mor: a de que tem terra demais para índio de menos. 

Estufam o peito para dizer que os Territórios Indígenas (TIs) ocupam 13% do território nacional (106 milhões de hectares), mas omitem que 37% (318 milhões de hectares) são ocupados por grandes propriedades. E que proporcionalmente, tem muito menos gente vivendo nessas terras. A maior parte das TIs está na Amazônia Legal, onde vive cerca de 55% da população indígena do país. Nas demais regiões, eles se espremem em pequenas áreas, entre cidades e fazendas, sem as mínimas condições de manter seu modo de vida. E é justamente nessas regiões acontecem os maiores conflitos fundiários e disputas pela terra. Então, quando o governo anuncia que vai revogar a extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), a gente fica ressabiado. Por outro lado, é uma demonstração da força de nossa união: conquistamos essa vitória porque não passamos recibo.

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