A empatia é contagiosa
Ser ativista é ter vontade de abraçar o mundo com as mãos. É ser movido pela empatia, por saber que estamos todos no mesmo barco, e que ele é frágil. Que a dor que aflige o outro pode lhe afligir. Também é ter a consciência de que não basta pensar apenas no presente, é preciso deixar um legado para as futuras gerações, assim como nos deixaram as anteriores. Como plantar tamareiras: a gente sabe de antemão que não vai viver tempo o suficiente para comer dos seus frutos. Sentir-se como uma gota que ajuda a formar o oceano.
Os ativistas ajudaram a dar fim à escravidão e a guerras, e foram fundamentais na conquista do voto universal. Desde meados do século passado, porém, nos defrontamos com outro desafio, quando a questão ambiental bateu à porta. É a causa principal desta era.
É uma atividade arriscada, especialmente no Brasil. Pelo segundo ano consecutivo o país foi apontado como o que mais mata ativistas ambientais . De acordo com a Global Witness, foram 57 pessoas assassinadas em 2017 – os números referentes a 2018 ainda não foram divulgados. Dá 28% do total de 207 pessoas no mundo inteiro.
Como a ONG britânica trabalha com dados oficiais, a quantidade de mortos pode ser ainda maior. Muitos desses crimes sequer são descobertos. A Justiça também pode ser lenta e ineficiente, até em casos de grande repercussão, como o de Dorothy Stang.
Ela foi assassinada em 2005 e em 2010 o mandante do crime, o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, condenado a 30 anos de reclusão. Graças a recursos da lei, ele ficou solto de 2012 a 2017. O criminoso voltou à prisão em abril deste ano, mas os antigos colaboradores da missionária americana ainda se sentem ameaçados.
Mas são muitos os sonhos de quem se dedica a defender causas justas. Por isso, eles sobrevivem às suas vidas, seguindo adiante até se tornarem realidade. A empatia é um sentimento contagioso. Esta semana perdemos Rogério Daflon, a quem este texto é dedicado. Daflon era um jornalista apaixonado e usava da atividade para exercitar seu ativismo apaixonante. Um guerreiro terno.
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