Nossas riquezas estão virando cinzas

outubro 2017

O Brasil é um trator a carvão que anda para trás. A China se tornou o maior poluidor do planeta, mas, em compensação, também virou a maior economia do mundo. Nós conseguimos a façanha de poluir mais, sem crescimento econômico. Segundo o novo relatório do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), lançado pelo Observatório do Clima, emitimos 8,9% a mais de gases de efeito estufa em 2016, em plena crise, do que em 2015. É o nível mais alto desde 2008. O Brasil é o sétimo maior poluidor do mundo. E a expectativa para o próximo relatório não é boa: mesmo com a diminuição da taxa de desmatamento, incêndios florestais, como o que devastou o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, esse número tende a subir.

De 2015 a 2016, as emissões aumentaram 12,3%, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 7,4 pontos. Inventamos mais uma jabuticaba: o não-desenvolvimento insustentável. Ou seja: estão transformando nossas riquezas em cinzas. Este crescimento se deveu muito à alta de 27% no desmatamento na Amazônia, mas o piloto desse trator é o agronegócio, responsável por 74% das emissões. O setor sozinho polui mais do que o Japão. Não está na hora de reavaliar esse modelo?

O agronegócio vem sendo apontado como a salvação da lavoura da economia brasileira. Mas será que botando na ponta do lápis os benefícios fiscais que o governo dá ao setor – enquanto corta substancialmente o orçamento para a agricultura familiar, que gera mais empregos – e os prejuízos indiretos que causa, dos danos à saúde da população à bagunça que está fazendo no solo, nos rios, no clima e na Constituição, via bancada ruralista, será que o agro é um bom negócio?

O Brasil chega devendo à Conferência do Clima (COP-23), que acontece na semana que vem em Bonn, na Alemanha. Estamos nos afastando cada vez mais das metas do Acordo de Paris. Passamos vergonha em relação ao México, nono maior poluidor, que tem feito direitinho a sua lição de casa. Na América Latina, os mexicanos dispararam na frente. A fórmula? Planejamento, uma política nacional de fomento à economia de baixo carbono e impostos altos para quem polui. É só colar.

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