O tempo está se esgotando

junho 2018

O tempo está se esgotando: o clima do planeta entrou em parafuso e, se nada for feito, a espécie humana terá que se acostumar a viver num planeta bem diferente – isso se sobreviver, é claro. Pesquisadores da Universidade de Oxford divulgaram um estudo que conclui que caso as emissões de gases de efeito estufa continuem aumentando, entre 2030 e 2049 a média da temperatura global vai subir 1,5°C. Vamos adiantar nosso infortúnio em algumas décadas: este é limite sugerido pelo Acordo de Paris para o fim do século.

Duas notícias recentes diretamente ligadas às mudanças climáticas são especialmente preocupantes: os ciclones estão ficando mais lentos e o degelo na Antártida, mais veloz. Os furacões perderam 10% de sua velocidade nos últimos 70 anos. E quanto mais vagarosamente se deslocam, maior o seu poder de destruição. Já a perda da camada de gelo que cobre o Continente Antártico aumentou três vezes nos últimos cinco anos, fazendo o nível do mar subir mais rapidamente neste período. No Brasil, este efeito vem sendo sentido principalmente no litoral paulista, onde o mar avança terra adentro, com ressacas cada vez mais fortes e frequentes. É hora de tomar uma atitude definitiva pelo clima.

De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), os ciclones se deslocavam em média a 19 km/h em 1949; em 2016, tiraram o pé do acelerador e baixaram para 17 km/h. No Pacífico Norte e no Atlântico Norte, a redução chegou a 30%. Eles se tornam mais destrutivos simplesmente porque ficam parados mais tempo sobre uma determinada região. E quanto mais lentamente se deslocam, mais água transportam também, inundando as cidades por onde passam.

A cada grau que aumenta a temperatura média global, os furacões carregam 10% mais de água. E tem mais água na água: a Antártida perdeu cerca de 84 bilhões de toneladas de gelo por ano de 1992 a 2012; mas nos últimos cinco anos, a quantidade pulou para 240 bilhões. Em consequência, o nível do mar está subindo mais rápido hoje do que nos últimos 25 anos. Esse aumento pode chegar a 23 centímetros até 2050 e a 45 até 2100.

Entre 2013 e 2017, o Projeto Metrópole, um estudo internacional sobre elevação do nível do mar, analisou a capacidade de adaptação às mudanças climáticas de três cidades costeiras: Broward, na Flórida (EUA), Selsey, na Inglaterra, e Santos. Na cidade brasileira, o mar avançou 3,6 cm na última década. A situação no litoral paulista está tão preocupante que o secretário estadual de meio ambiente e os das cidades de Bertioga, Cananeia, Cubatão, Caraguatatuba, Guarujá, Iguape, Ilha Comprida, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Praia Grande, Santos, São Sebastião, São Vicente e Ubatuba assinaram uma carta onde pedem medidas urgentes contra os impactos das mudanças climáticas. É a questão ambiental se sobrepondo à política partidária. Há muito mais em jogo do que supõe nossa vã ideologia.

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