“Minas não tem mar, mas fizeram dois mares de lama nas minas”. Este é um trecho do poema lido por Leonardo Bauer, coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), durante debate com especialistas e ativistas sobre energia nuclear e mineração no Uranium Film Festival, que aconteceu entre 25 de maio e 2 de junho, na cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
A Uma Gota no Oceano foi convidada para participar da nona edição do festival com a campanha “Em nome de que, São Francisco?”, que trata da contaminação do Velho Chico por metais pesados que vazaram da barragem da Vale, em Brumadinho.
Estavam presentes na mesa, além do Leonardo – convidado pela Uma Gota No Oceano – os professores Alphonse Kelecom, do Laboratório de Radiobiologia e Radiometria do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense, Wagner Pereira, do Mestrado Profissional em Ciências do Meio Ambiente da Universidade Veiga de Almeida, gerente de Rejeitos Radioativos e supervisor de Transporte de Material Radioativo. A coordenadora geral da Sapê (Sociedade Angrense de Proteção Ecológica), Maria Clara Valverde, e o ecologista do movimento Baía Viva, Sérgio Ricardo também participaram da conversa, que foi mediada pelo jornalista alemão Norbert G. Suchanek, fundador do festival.
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A mineração de urânio foi o tema central do festival. O Brasil tem a sexta maior reserva de urânio do mundo. Grande parte da extração deste mineral segue para ser enriquecida na Europa e parte retorna ao país como combustível para as usinas nucleares de Angra dos Reis (RJ). Segundo Maria Clara Valverde, não existe um plano de ação caso aconteça algum acidente nuclear na região. De acordo com ela, a população não tem participação ativa nas tomadas de decisão e não tem instrução (e nem treinamento). Ainda segundo Maria Clara, não existe uma consciência sobre os riscos ambientais aos quais a região, um santuário ecológico, está exposta. Os impactos desta mineração e de possíveis acidentes envolvendo matérias radioativas podem se alastrar por centenas de anos. Alguns exemplos desses impactos são Hiroshima e Fukushima, no Japão. No Brasil temos os riscos deixados pela extração de urânio, em Poços de Caldas (MG), e pelo vazamento do césio 137, em Goiânia (GO).
A questão da mineração é um ponto muito delicado e caro ao Brasil. Ao mesmo tempo em que a atividade mineradora é fundamental para a economia de alguns estados e até para o país como um todo, por outro é uma atividade de alto impacto ambiental e que, como estamos acompanhando desde o crime de Mariana em 2015, há uma fragilidade no que tange a segurança das barragens de rejeito dos minérios, o que provoca mortes – a de seres humanos e a do meio ambiente.
Uma outra pauta que esteve em debate foi a tentativa do governo federal de alterar o código florestal. A proposta, aprovada pela Câmara dos Deputados, foi barrada no Senado Federal, mas o governo ainda cogita editar um outro decreto que pode prejudicar – ainda mais – o meio ambiente.
A Semana do Meio Ambiente é uma oportunidade para repensarmos nossas atitudes, nosso modo de vida e o impacto que causamos na natureza. Em nome de que consumimos tanto e não preocupamos com o descarte do nosso lixo? Em nome de que somos coniventes com o aumento do desmatamento da Amazônia para agropecuária? Em nome de que poluímos nossos rios e oceanos com lixo, plástico e até metais pesados? Em nome de que não nos preocupamos mais com nossa casa, o Planeta Terra?
A cada ano consumimos mais rápido do planeta do que ele pode nos oferecer. A nossa “pegada ecológica” chega no limite cada ano mais cedo. Em 2000, por exemplo, atingimos o limite do nosso planeta no dia 5 de outubro. Em 2018, esse limite foi dia 1 de agosto. E este ano, quando será? Precisamos repensar nosso modo de vida e agirmos. Antes que seja tarde demais. Afinal, nossas escolhas definem nosso futuro.
Vamos juntos?
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