Dos dias 22 a 26 de abril de 2024, aconteceu 20ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL) em Brasília (DF), reunindo mais de 10 mil indígenas de cerca de 200 etnias. O evento deste ano aconteceu em meio a tensões crescentes, como o debate sobre o Marco Temporal, que ameaça restringir o direito à terra apenas às áreas que estavam sob posse indígena em 1988.
Durante os dias do acampamento, lideranças indígenas se reuniram para discutir estratégias e fortalecer a luta contra ameaças como o Marco Temporal e a expansão de projetos de infraestrutura que colocam em risco a integridade dos territórios indígenas. Um dos principais focos foi o projeto Ferrogrão, uma ferrovia planejada para escoar commodities do centro-oeste até os portos da Amazônia, que atravessaria terras indígenas no Pará. Esse projeto é visto como uma grave ameaça para as comunidades locais, e as discussões sobre como resistir a ele foram centrais no evento.
A frustração com o governo federal também marcou o ATL 2024. Em 19 de abril, em que é celebrado o Dia dos Povos Indígenas, o presidente Lula homologou apenas seis das dez terras indígenas prometidas, gerando grande insatisfação entre os participantes. Esse sentimento de decepção influenciou a decisão de não convidar o presidente ao acampamento, reservando o encontro para o final da marcha, que aconteceu no dia 25. Esse gesto foi simbólico, demonstrando a força e a independência do movimento indígena, que continua a lutar pelos direitos garantidos na Constituição de 1988.
Além das discussões políticas e estratégicas, também foi um momento de celebração da cultura indígena, com atividades culturais e artísticas que reforçaram a identidade e a união dos povos presentes. Troca de conhecimentos, rodas de conversa e debates mostraram a riqueza e a diversidade das culturas indígenas brasileiras, ao mesmo tempo em que fortaleceram a coesão do movimento.
O ATL não se limitou a Brasília. Em preparação para o grande encontro, foram realizados acampamentos regionais, como em Mato Grosso e Amazonas, onde as discussões locais foram aquecidas para a mobilização nacional. Esses encontros foram fundamentais para organizar as pautas e fortalecer as alianças entre diferentes povos e regiões.
A Gota colaborou ativamente com as lideranças indígenas, ampliando suas vozes e fortalecendo a comunicação estratégica, desde a preparação para os encontros regionais até a articulação direta em Brasília, onde apoiamos a produção e disseminação de pautas que foram publicadas em veículos de grande alcance, tanto nacional quanto internacional. A Gota esteve também ao lado das lideranças, como Alessandra Munduruku, em reuniões ministeriais e em debates públicos, ajudando a garantir que as questões cruciais para os povos indígenas fossem amplamente divulgadas e reconhecidas.
Em sua 20ª edição, o ATL 2024 reafirmou a importância da mobilização indígena em um momento crítico, mostrando que, mesmo diante de grandes desafios, a união e a determinação dos povos originários seguem firmes. A luta pela demarcação das terras, a resistência contra projetos que ameaçam os territórios e a defesa dos direitos garantidos na Constituição são apenas alguns dos pilares que sustentam essa mobilização histórica, que segue inspirando e fortalecendo a luta indígena no Brasil e no mundo.