Fogo na Amazônia

outubro 2017

Tacaram fogo no Brasil. Setembro registrou o maior número de focos de incêndio no campo e na floresta da história: mais de 197 mil. Quase metade deles, na Amazônia. Em setembro de 2016, foram 44 mil focos; a média para o mês é 55 mil. E não dá para explicar tanto fogo apenas por fenômenos naturais, como a seca que castiga diversas regiões do país: na maioria das vezes – senão todas -, foi o homem quem riscou o fósforo. E de propósito.

“Raios e fenômenos espontâneos são responsáveis por, no máximo, 1% dos focos de incêndio registrados. A baixa umidade do ar apenas cria condições favoráveis aos incêndios, mas é a ação humana que causa a queimada”, diz o coordenador do Programa de Queimadas e Incêndios do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alberto Setzer. “Nessa época do ano, praticamente 100% dos incêndios são causados por ação humana”, confirma Gabriel Zacharias, coordenador do Prevfogo, órgão do Ibama de prevenção e combate às queimadas. Setzer lembra que as queimadas antecedem o plantio de grãos. As áreas incendiadas em seguida são desmatadas e ocupadas, como parte da estratégia de invasão de terras públicas. É a velha história: onde há fumaça, há fogo.

O fogo queimou o país de norte e sul, incluindo Unidades de Conservação e Territórios Indígenas. Um incêndio destruiu 1.200 hectares de Mata Atlântica na Serra da Bocaina, na divisa entre Rio e São Paulo; outro, queimou 4.300 hectares da Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso; o estrago no Parque Nacional do Araguaia equivale a uma área duas vezes maior que a cidade de São Paulo; o Parque da Ilha Grande (divisa de Mato Grosso do Sul com o Paraná), perdeu 35 mil hectares; e o Parque Indígena do Xingu, 39 mil hectares, ou 15% de sua área. Os incêndios são o prenúncio de uma taxa de desmatamento que deve ser tão alta quando a de 2016, e de uma taxa de emissão de gases bem acima do nosso compromisso com o Acordo de Paris.

O Brasil tem o melhor sistema de monitoramento de queimadas mais robusto do mundo. São dez satélites que fazem uma varredura ininterrupta do país, gerando 250 imagens por dia. Mais difícil é combater o fogo. Não bastasse o tempo seco, o governo ainda cortou 43% do orçamento do Ministério do Meio Ambiente. “O mais importante é não colocar a culpa na seca, que acontece há anos, com maior ou menos intensidade. Enquanto não houver uma fiscalização que consiga dar conta desse monte de queimadas, a gente vai lidar com incêndios florestais”, diz Cláudia Ramos, pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará. Cortar verba de combate a incêndio é como jogar gasolina no fogo. 

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