A saída de Katowice, na Polônia, onde está sendo realizada a 24ª Convenção sobre o Clima da ONU (COP 24), leva a dois caminhos distintos. A maioria dos países desenvolvidos parece determinada a tomar o rumo da economia sustentável. Na semana passada, por exemplo, a União Europeia anunciou que planeja banir o uso de combustíveis fósseis do seu território até 2050. Os europeus não rasgam dinheiro, muito pelo contrário: só para se ter uma ideia, entre 1990 e 2016, quando houve uma redução de 22% das emissões no bloco, o PIB local cresceu 54%. Calcula-se que a transição para a economia verde vá reduzir os custos com a saúde pública em mais de 200 milhões de euros por ano e diminuir em mais de 40% a taxa de mortes prematuras causadas pela má qualidade do ar. A China, ainda a maior poluidora, investiu no ano passado US$ 133 bilhões só em projetos de energia renovável. E está a caminho de se tornar a maior economia do planeta.
Enquanto isso, o governo americano segue a todo vapor pelos trilhos do passado. De nada adiantou o fogo consumir 620 km² da Califórnia em novembro, deixando 88 mortos e 196 pessoas desaparecidas. Menos ainda a 4ª Avaliação Nacional do Clima, encomendada pelo Congresso americano a 13 agências federais americanas. O estudo de 1.656 páginas, assinado por 300 cientistas, detalha como as mudanças climáticas vão ameaçar a agricultura, reduzir a produção de energia e aumentar a probabilidade de inundações e incêndios florestais, e a incidência de doenças tropicais no país. E bota na ponta do lápis quanto isso vai custar: US$ 500 bilhões por ano até 2090. São US$ 141 bilhões devido a mortes por calor; US$ 118 bilhões por causa do aumento do nível do mar; e US$ 32 bilhões de danos à infraestrutura, entre outros prejuízos. Isso pode custar um décimo do PIB americano até 2100. Segundo o relatório, uma ação imediata do governo poderia amenizar esses impactos. “Não acredito”, foi só o que disse o presidente Donald Trump.
O Brasil parece decidido a tomar o mesmo rumo: o país desistiu de sediar a COP 25 no ano que vem. De cara, já saímos perdendo um bom dinheiro; o governo do Paraná, que pleiteava Foz do Iguaçu como sede, calcula que o evento movimentaria R$ 400 milhões. E podemos perder muito mais, com futuras sanções internacionais. Não somos os Estados Unidos, nosso cacife é muito mais baixo. O único trunfo que temos é a nossa (ainda) imensa área verde. E as ameaças já começaram.
O presidente da França, Emmanuel Macron, disse na semana passada, no encontro do G20, em Buenos Aires, que a assinatura de um tratado comercial da União Europeia com o Mercosul depende do apoio do governo brasileiro ao Acordo de Paris: “Não posso pedir aos meus empresários e aos meus trabalhadores que façam sacrifícios em nome da transição energética e da luta contra a mudança climática e, ao mesmo tempo, assinar acordos comerciais com países que não pretendem fazer o menor esforço nessa área”. As negociações para assinatura deste tratado transcontinental se arrastam há quase 20 anos, mas estavam na reta final.
E tem mais: a Alemanha acabou de anunciar que vai investir US$ 1,7 bilhão, o dobro do que havia prometido, no Fundo Verde do Clima, destinado a ajudar países em desenvolvimento a enfrentar e se adaptar às mudanças climáticas e reduzir suas emissões de gases de efeito estufa; e o Banco Mundial também dobrou a verba destinada para a proteção climática: US$ 200 bilhões. Só que durante a campanha, o presidente eleito manifestou a intenção de sair do Acordo de Paris, assim como fez Trump. Nossa sorte é que não será tão fácil assim, já que lá a decisão foi presidencial, enquanto aqui ela foi referendada pelo Congresso Nacional. Ainda assim, dependendo das ações do futuro governo, podemos ficar de fora da lista dos países beneficiados.
E não é só nossa saúde financeira que está em risco, evidentemente. Um estudo publicado na revista médica “The Lancet”, feito pela ONU, agências intergovernamentais e 27 instituições acadêmicas, abrangendo disciplinas que vão de saúde a engenharia e ecologia diz que “um clima num processo acelerado de mudança tem implicações terríveis para todos os aspectos da vida humana, expondo populações vulneráveis a extremos climáticos, alterando padrões de doenças infecciosas e comprometendo a segurança alimentar, a água potável e o ar limpo”. Inundações, por exemplo, também podem provocar o fechamento de hospitais e causar epidemias; e incêndios florestais, além de deixarem pessoas feridas e desabrigadas, também pioram a qualidade do ar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que, entre 2030 e 2050, as mudanças climáticas possam matar 250 mil pessoas por ano, devido a doenças variadas, desnutrição e estresse por calor. As temperaturas mais altas também aumentam a incidência de enfermidades transmitidas por mosquitos, como a dengue, a zika e a chicungunya. Além disso, o calor também pode ampliar a resistência de microrganismos a antibióticos. As temperaturas mais altas também afetam a agricultura e o aumento dos níveis de CO₂ na atmosfera está reduzindo os nutrientes dos alimentos. Ainda dá tempo de o Brasil fazer uma mudança de rumo.
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