Em nome do clima

setembro 2019

Quem disse que ciência e fé não podem andar juntas? Os cientistas foram os primeiros a falar ao mundo que a floresta é uma das barreiras mais confiáveis contra o avanço das mudanças climáticas. Eles falaram à razão; mas às vezes também é preciso falar ao espírito. De 6 a 27 de outubro será realizado, no Vaticano, o Sínodo da Amazônia. Convocado pelo Papa Francisco, o evento terá como tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Depois da recém-realizada Cúpula Climática da ONU (Climate Action Summit 2019), a reunião de Bispos da Igreja Católica vira centro de discussões sobre o meio ambiente. Cientistas e religiosos concordam em outro ponto: os povos tradicionais são fundamentais para a preservação da floresta.

O reconhecimento da ciência da importância dos indígenas ganhou forma no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, que recomendou que o seu direito à terra seja fortalecido. O documento serviu de base para as negociações do Climate Action Summit 2019. As deliberações do Sínodo serão guiadas pelo “Instrumentum Laboris”, texto publicado em 17 de junho. No centro das discussões no Vaticano estarão as principais ameaças aos povos da Amazônia, que nascem da exploração descontrolada dos recursos naturais da região: o desmatamento, a proliferação do garimpo ilegal, os grandes projetos hidrelétricos, o avanço das monoculturas e o desrespeito às suas culturas e ao seu direito à terra.

As negociações da Cúpula Climática partiram de uma convocação do secretário-geral da ONU, António Guterres, para que os líderes mundiais apresentassem planos mais efetivos para a redução das emissões de gases do efeito estufa. Os povos tradicionais levaram o seu recado e foram ouvidos. Se os políticos relutaram em tomar decisões mais corajosas, o evento despertou de vez a sociedade civil. Além das manifestações que levaram 4 milhões às ruas no último dia 20, o setor privado começou a fazer a sua parte: 87 das maiores empresas do mundo se comprometeram a cumprir metas climáticas. A lista inclui marcas como Burberry, Danone, Ericsson, Electrolux e Nestlé.

Essas companhias valem US$ 2,3 trilhões, empregam mais de 4,2 milhões de pessoas e emitem o equivalente a 73 usinas de carvão por ano. Algumas se comprometerem com “metas baseadas na ciência”, o que significa que os cortes de suas emissões podem ser avaliados de forma independente. No setor financeiro, alguns dos maiores fundos de pensão e seguradoras se uniram para formar a Aliança de Proprietários de Bens. A entidade tem como objetivo realocar os mais de US$ 2 trilhões que administra em investimentos que sejam neutros em carbono até 2050. Os homens de negócio botam fé no desenvolvimento sustentável e a economia também é uma ciência. Quem atacar os direitos dos povos indígenas não vai mais lucrar.

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