Bheka Munduruku tinha só 16 anos, mas já havia visto muita coisa. Testemunhou as invasões às terras de seus ancestrais, a contaminação por mercúrio do Rio Tapajós, as mudanças no clima, as tentativas de adaptá-la a um modo de vida que não era seu. Como qualquer adolescente, ela só queria estudar e se divertir; mas percebeu que se queria um futuro, teria que lutar por ele. Bheka faz parte de uma geração que, assim como a sueca Greta Thunberg, não admite que os mais velhos tomem decisões que se refletirão em problemas para eles mais tarde.
A campanha “Em Nome de Quê? – O apelo de Bheka Munduruku”, elaborada e desenvolvida por Uma Gota no Oceano, traz a jovem indígena como protagonista para mostrar as ameaças as quais os Munduruku estão suscetíveis, como mineração em Terras Indígenas e a construção de hidrelétricas. O objetivo desta narrativa é promover uma associação clara ao público entre a indígena e a ativista sueca Greta Thunberg, que tem inspirado milhões de pessoas em todo o mundo em defesa do clima no planeta.
O vídeo foi exibido em Nova York, durante o Climate Summit, em setembro de 2019. Estavam presentes nomes como Carlos Nobre (USP), Tasso Azevedo (MapBiomas), Charles McNeill (ONU), Hanne Strong (Manitou Foundation) e Ilona Szabó (Instituto Igarapé) e Brenda Brito (Imazon). Sua exibição foi acompanhada de uma sessão do filme da Mídia Índia “Ka’a zar ukyze wà – Os donos da floresta em perigo” e de um especial exclusivo da série “Aruanas”, da Rede Globo. Ele também foi exibido em um evento da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e Solidariedade (CIDSE), em outubro de 2019, em Roma, durante o Sínodo Amazônico, com a presença da indígena brasileira Nag Sateré Mawé.
A campanha também foi exibida na mesa “Energia limpa para todos: resistência das comunidades e soluções”, na Conferência do Clima COP 25, em Madri, diante de uma plateia que tinha representantes de vários países.
Em janeiro de 2020, ocorreu o Encontro dos Povos Mebengokrê, na aldeia Piaraçu, na Terra Indígena Capoto Jarina (MT), que reuniu cerca de 600 indígenas de 45 diferentes etnias para debater as pautas prioritárias para os povos tradicionais. Convocado pela liderança Raoni Metuktire, o encontro teve também a presença da jovem Bheka Munduruku e, uma vez que a imprensa nacional e internacional estava fazendo a cobertura deste que foi o principal encontro presencial de 2020 e que Uma Gota no Oceano estava coordenando a comunicação dele, compreendemos que seria o momento ideal para o lançamento oficial da campanha. Articulamos a publicação de um artigo assinado por Bheka no jornal Folha de S. Paulo e da campanha na Reuters, uma das principais agências de notícias do mundo.
No final do encontro, após quatro dias e muitos debates, os povos indígenas deram um exemplo a todo Brasil durante a construção do documento “Manifesto do Piaraçu das lideranças indígenas e caciques do Brasil”.