A ciência salva

outubro 2019

Cansado de esperar providências, o povo nordestino está arriscando a própria saúde para limpar as praias da região. As universidades e instituições científicas também entraram em ação. Ainda não se tem certeza sobre a procedência do óleo, mas graças a pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) já se sabe em que ponto do Atlântico ele foi despejado: da fronteira entre Sergipe e Alagoas, a uma distância de 600 km a 700 km da costa. Com essa informação é possível traçar planos de contenção. O importante é impedir que a poluição chegue ao litoral.

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) começa a fazer as contas do prejuízo. Biólogos da instituição examinaram a fauna marinha de praias do estado e detectaram metais pesados em peixes, crustáceos e moluscos. A população prefere não se arriscar, fazendo a renda de pescadores e marisqueiros cair 80%. “Ninguém compra nada. Nada. É um desespero. Eu preciso botar comida em casa, alimentar minhas filhas. Vou ter que comer esse marisco. Vou jogar fora? Não. Mas ninguém quer. O mar é um só, né?”, diz a catadora de mariscos Fabiana França, de Salvador. Mesmo que se limpe todo o litoral, só em 10 anos a região voltará ao normal. E mesmo que se contenha e se recolha todo o óleo derramado, resta um problemão: o que fazer com ele?

Marinha, Ibama e Petrobras não têm um plano definido. O governo de Pernambuco contratou uma empresa que está armazenando os resíduos num aterro em Igarassu, a cerca de uma hora do Recife. Até agora foram 1,3 mil toneladas de óleo e objetos contaminados pela substância, como baldes, luvas e máscaras. O material passa por uma triagem e em seguida é triturado e vendido como combustível para indústrias de cimento. Mas a UFBA está desenvolvendo um projeto para dar um destino mais ecológico ao óleo. A ideia é reusá-lo como material de construção. A técnica desenvolvida pela universidade consiste em transformar o petróleo num tipo de carvão granulado que pode ser usado como mistura para asfalto ou blocos de construção.

Há 3 anos, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) encarou um desafio parecido e uma solução semelhante. Além de toda destruição e das mortes que causou na região de Mariana, o rompimento da barragem da Samarco deixou 35 milhões de m³ de rejeitos tóxicos de saldo. O que fazer com esse lixo? Pesquisadores da instituição criaram uma técnica para fazer tijolos e cimento a partir da lama. A Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) desenvolveu um estudo paralelo e calculou que com 500 toneladas de resíduos seria possível construir 40 casas de 40 m². E a Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da USP e da Universidade Federal do ABC (UFABC) conseguiram fazer o que parecia impossível: transformar os resíduos em solo para a agricultura. O melhor é aprender com os erros para não repeti-los, mas é preciso ter um bom estoque de planos B na manga também. Por isso é tão importante investir em pesquisa.

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