A COP30, realizada em Belém, consolidou a Amazônia, seus povos, territórios, ciência e biodiversidade como peças indispensáveis para as soluções climáticas globais. A escolha da floresta foi estratégica: é ela que regula chuvas, temperatura, biodiversidade, produtividade agrícola e equilíbrio climático de todo o hemisfério sul.
Para a Gota, essa foi a décima COP, o que muito nos orgulha! Nossa participação nas Conferências do Clima, desde Paris, simboliza uma trajetória baseada em confiança, alianças e comunicação qualificada.
Em 2025 celebramos que, pela primeira vez na história das Conferências, os documentos finais reconheceram os afrodescendentes e o direito dos povos indígenas à consulta prévia, livre e informada. E também o fato de a COP30 ter ficado conhecida como COP indígena, resultado de anos de mobilização e de um trabalho que envolveu a formação das lideranças que marcaram presença nos debates.
Nesta COP, a Gota trabalhou em três frentes:
Freio de Emergência Climática
Em resposta ao aquecimento global, a mitigação do metano (CH4) esteve no centro das discussões. O trabalho da Gota, em parceria com o Global Methane Hub, quer mostrar que esse gás de efeito estufa é responsável por pelo menos um terço das mudanças climáticas e que pode ser atacado mais rapidamente que o carbono (CO2).
O metano, historicamente, recebeu apenas 1% dos recursos globais em mitigação. Em Belém, esse cenário começou a mudar: cerca de US$ 600 milhões em novos investimentos foram anunciados para acelerar ações nos setores de resíduos, agricultura e energia.
- Na parte de resíduos, a iniciativa “Economia Circular JÁ!”, apoiada pelo Global Methane Hub, recebeu parte dos US$ 30 milhões direcionados à expansão de soluções capazes de reduzir emissões provenientes de resíduos orgânicos;
- Também foi lançado durante a COP30 o primeiro relatório global sobre metano desde 2021, reafirmando que cortar 30% das emissões até 2030 é uma das formas mais rápidas e eficientes de frear o aquecimento no curto prazo.
Impedir que o planeta ultrapasse o ponto de não retorno climático passa pela implementação de propostas que já existem, e que podem dar escala aos compromissos assumidos desde 2021 com o Global Methane Pledge.
Criadores de Refúgio, Guardiões do Futuro
A COP30 marcou a menção inédita a afrodescendentes nos textos oficiais. A NDC Quilombola apresentou uma proposta concreta para integrar quilombos às metas nacionais. O estudo “Amazônia Quilombola” (CONAQ + ISA) sistematizou os dados mais completos sobre territórios quilombolas na Amazônia Legal.
- A presença expressiva dos afrodescendentes na Cúpula dos Povos fortaleceu a denúncia do racismo climático;
- Na marcha pelo clima, eles caminharam ao lado de povos indígenas e movimentos sociais;
- E o governo federal assinou 28 decretos de desapropriação e declaração de interesse social, beneficiando mais de 5 mil famílias e avançando a regularização fundiária.
Enfrentar a crise climática exige enfrentar o racismo ambiental e reconhecer quilombolas como protagonistas.
A Resposta Somos Nós
Os direitos territoriais indígenas foram reconhecidos nos textos oficiais da COP30 como políticas fundamentais de mitigação e, durante toda a conferência, avanços territoriais reforçaram a demarcação como política climática. Em Belém ocorreram:
- 4 homologações (Apyterewa, Trincheira Bacajá, Rio Gregório, Uneiuxi);
- 10 portarias declaratórias (como Takwara, Sawré Ba’pim, Morro dos Cavalos e Kapôt Nhinore);
- 6 relatórios de identificação e delimitação;
- 10 novas reservas indígenas.
Na parte de financiamento, foram criados o Fundo Vítuke, voltado à gestão territorial indígena, e o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que destina pelo menos 20% dos recursos diretamente às comunidades. São avanços importantes e resultado da mobilização que começou antes da conferência. Os indígenas se prepararam a partir de processos de formação como:
- O Ciclo COParente: uma série de encontros e mobilizações promovidos pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que percorreram todos os biomas brasileiros para preparar e envolver as comunidades indígenas nas discussões e pautas da COP 30;
- O Kuntari Katu: implementado pelo Ministério dos Povos Indígenas em parceria com o Itamaraty, o programa formou diplomatas indígenas;
- A presidência da COP apoiou a criação do Círculo dos Povos, na Zona Verde, onde passado e futuro caminharam juntos nos debates sobre clima;
- A Aldeia COP, criada junto à Universidade Federal do Pará, recebeu 3,5 mil indígenas de mais de 100 povos, além de 5 mil visitantes;
- Na Zona Azul – espaço reservado para os debates que geraram o documento oficial do encontro -, quase 900 indígenas estiveram credenciados para acompanhar as discussões, a maior delegação já registrada na história das conferências.
A presidência da COP adotou a lógica de “Mutirão”, valorizando democracia, saberes diversos e participação de povos indígenas, quilombolas, juventudes, cientistas e movimentos sociais. E ainda apresentou o “Mapa do Caminho”, plano estratégico endossado por mais de 80 países para orientar a transição energética e o fim dos combustíveis fósseis e do desmatamento.
Seminários da Gota na Zona Verde (Museu das Amazônias)
A Gota promoveu dois dias de seminários abertos ao público e também com transmissão ao vivo pela internet onde foram debatidas as formas de mitigação do metano, no primeiro dia, e o reconhecimento dos quilombolas como “criadores de refúgios e guardiões do futuro”:
Seminário Freio de Emergência Climática (17/11)
Quatro painéis reuniram especialistas, gestores, lideranças indígenas e quilombolas:
- Do campo ao clima: a agropecuária na rota da redução do metano;
- Riqueza descartada: resíduos como solução climática;
- Produção de energia, regras claras: caminhos para uma transição justa;
- Vozes do Piroceno: quando a ciência encontra a ação.
O seminário reforçou que reduzir metano traz benefícios imediatos e exige ação coordenada, financiamento e protagonismo dos territórios.
Seminário Criadores de Refúgio, Guardiões do Futuro (18/11)
Três painéis reuniram lideranças quilombolas, pesquisadoras e organizações da sociedade civil:
- Titulação: a espinha dorsal da justiça quilombola;
- NDC Quilombola: reparação e compromisso climático com os territórios negros;
- ]CITAFRO, CONAQ e o poder do caucus na construção da justiça climática.
O seminário reafirmou que proteger territórios quilombolas é proteger florestas, garantir justiça climática e enfrentar o racismo ambiental com políticas concretas e financiamento direto às comunidades.
Legados de Belém e os desafios adiante
A COP30 reafirmou que clima, território e justiça social são dimensões inseparáveis. As decisões tomadas em Belém, especialmente o reconhecimento formal a povos afrodescendentes, a consulta prévia indígena, a valorização de seus direitos e saberes, e a defesa da participação coletiva, representam um avanço histórico.
Mas, por si só, o reconhecimento não é suficiente. O desafio é transformar essa conquista institucional em políticas concretas:
- Demarcação de territórios;
- Financiamento direto às comunidades;
- Proteção ambiental real;
- Participação efetiva em decisões;
- Titulação quilombola;
- Soberania dos povos tradicionais.
A Gota segue firme nesse compromisso. Continuaremos amplificando vozes, promovendo justiça climática, defendendo territórios e construindo pontes entre comunicação, ciência, democracia e participação social, sempre com os povos e comunidades no centro.






















































































































































