Muda esse clima

junho 2019

Sextou! Quer dizer, menos para quem vive na Ilha de Sommarøy, na Noruega, no extremo Norte do globo. Lá faz sol dia e noite durante o verão, o que levou os moradores a pensarem em abolir o conceito de tempo. A ideia pode ter chegado atrasada: em breve é possível que as mudanças climáticas obriguem todos nós a adaptar o relógio biológico. A noção de clima será atualizada.

Os ponteiros dispararam no noroeste da Groenlândia. Isso possibilitou o cientista dinamarquês Steffen M. Olsen a fazer um retrato do futuro: ele estava a caminho de uma estação meteorológica quando os cães que puxavam seu trenó pisaram em água. Olsen tirou uma foto histórica, que normalmente só seria possível em meados de julho, quando o gelo começa a derreter na região.

O calor no Ártico está deixando o urso polar sem comida e sem teto. Ele é o mais novo refugiado climático do planeta. Um vídeo que circulou nas redes recentemente flagrou uma fêmea da espécie 800 km de casa. Faminta, ela foi encontrada na cidade industrial de Norilsk procurando comida no lixo. É cada vez mais comum encontrar ursos polares nos centros urbanos da Sibéria.

Um recente estudo da Universidade do Alasca Fairbanks, publicado na revista Science Advances, aponta que a velocidade do degelo na Groenlândia está aumentando vertiginosamente. Suas geleiras devem derreter completamente até o fim deste milênio, caso as emissões de gases do efeito estufa não sejam reduzidas drasticamente. Também de acordo com a pesquisa, toda essa água pode elevar o nível do mar em 33 cm até 2100.

Parece pouco? Não para o povo Kuna, que vive em San Blas. Nos últimos 50 anos, o oceano subiu três vezes mais no Caribe Panamenho, onde fica o arquipélago. Como se não bastasse, agora chove forte o ano todo na região. Antes isso só acontecia em novembro. “A natureza está zangada e está mandando um recado. Essas fábricas que jogam tanta fumaça são as culpadas”, diz Pablo Preciado, sagla – uma espécie de pajé – de San Blas. Os Kuna serão o primeiro povo a ficar sem casa devido às mudanças climáticas. Eles não fabricam nada, mas o estrago causado pelo CO₂ é planetário.

Metaforicamente falando, a água começa a bater também nas canelas dos europeus. Os verões no Velho Continente têm sido de lascar mas este, especialmente, promete ser uma brasa. Pessoas já começam a morrer – literalmente – de calor na Espanha e os termômetros marcaram o recorde temperatura na França: 45,1°C.

Não à toa, as mudanças climáticas ganharam peso extra na reunião do G-20, em Osaka, no Japão. O presidente francês Emmanuel Macron condicionou assinatura do tratado de livre comércio entre Mercosul e União Europeia à permanência do Brasil no Acordo de Paris. O governo brasileiro cedeu e o acordo comercial ainda prevê a participação da sociedade civil – incluindo ONGs – no processo de monitoramento de questões sociais, ambientais e de direitos humanos e inclui um capítulo dedicado aos desenvolvimento sustentável. Mas o avanço no desmatamento na Amazônia e a sua política ambiental pode afastar doadores, compradores e investidores internacionais. O inverno no país deve ser mais quente do que de costume, mas nossas relações com o resto do mundo podem esfriar.

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